"Les temps sont durs pour les rêverus."

É praticamente impossível passar mais da metade dos 122 minutos de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain sem um sorriso no rosto, daqueles bobos mesmo, de quando simplesmente você se sente bem, se sente feliz. E talvez essa seja a grande missão, ora ingrata, do filme, com todos os seus detalhes que, de tão ricos, são praticamente impossíveis de ser digeridos em uma assistida só. O visual do filme beira à moldura, perfeita para uma heroína de sonho como Amélie é, perfeita na pele da fofíssima Audrey Tautou. É uma experiência de sentidos o filme, e é daqueles que faz o coração sair até mais aquecido.

Uma das coisas que mais traz essa sensação de felicidade, pura e simples, é ver como Amélie, ainda que por inocência, é uma pessoa boa. A morte de Lady Di (o filme se passa em 1997) cria um efeito da Teoria do Caos, porque a morte da pincesa gera uma reação em Amélie (a tampa do perfume que cai), que leva à descoberta de um compartimento secreto e da caixinha dentro dela, com os tesouros de infância de um menino dos anos 50. Esse tesouro será o responsável pela mudança na vida de Amélie, que se torna um tipo de super-heroína, cujo poder é justamente engatilhar os eventos na vida dos outros e ajudar as pessoas, o que explica a fantasia de Zorro que ela posteriormente veste. Pois é, a foto que Nino encontra e reconstitui não é ao acaso, pra quem não entendeu. Amélie ajuda aos outros por ser uma pessoa boa, ainda que dê pra argumentar que ela o faça por ser uma forma de escapar da própria realidade ou por altruísmo, explicado pela "reportagem" que ela vê na TV sobre a própria morte. Bullshit, ou pelo menos pra mim, que prefiro acreditar que ela o faz de bom grado, mesmo que seja por inocência.



O duro, por outro lado, é justamente isso. Essa inocência ao ajudar me lembra muito o garoto Trevor McKinney (vivido por Haley Joel Osment, clone do meu primo quando mais novo), de A Corrente do Bem. Pra quem não sabe, o garoto tem uma idéia de que, se cada pessoa ajudasse três outras pessoas, o mundo seria um lugar melhor. Quem fosse ajudado teria de "passar" isso, ajudando três pessoas, que teriam, cada uma, de ajudar outras três pessoas, numa PG, e por aí vai. A idéia é simples, até, e poderia funcionar, mesmo que a gente não leve o Jim "JC" Caviezel pra casa, e ele salve uma mulher do suicídio depois. Só que Trevor tem 12 anos, e como Amélie, acredita que pode mesmo mudar o mundo, tendo até um relativo sucesso, como a trágica e linda cena final do filme mostra. Will Smith também já mostrou seu lado humanitário em Sete Vidas, que é bem bom e igualmente trágico, mas não movido por inocência, e sim por culpa, remorso ou o que for. Será que não dá pra ser movido por... sei lá, pura vontade de ajudar aos outros, ao mesmo tempo em que se pensa nos problemas no trabalho e se fala um palavrão sem motivo, por pura falta de paciência com bobagem?



Claro, são três filmes que me fizeram repetir para mim mesmo que eu não sou um cara ruim por não fazer o que eles todos fazem, especialmente porque só mesmo Amélie consegue ter bons frutos das ações, até para ela mesma, que descobre o amor no meio do caminho e protagoniza uma conquista absolutamente irresistível, que poucos filmes conseguem mostrar, dando a sensação de que uma coisa tão irreal pode ser real, ainda que seja preciso ser um sonhador para isso. Assim como se tem que ser um sonhador para fazer coisas simples como a idéia de Trevor para um mundo melhor, e precisar ter essa tal qualidade de sonhador é justamente o que está errado, porque a gente pode e deve ser simplesmente melhor, mas como pessoas normais. Não deveria ser preciso ser uma menina com a vida que Amélie teve (ela, em si, é um milagre sociológico, considerando como cresceu), ou ser um menino de bom coração que não se torna vítima da própria idéia, ou um engenheiro espacial workaholic que tem o péssimo hábito de usar o celular ao volante e acredita em (literalmente) doar a vida para que a gente acredite na natureza e na bondade humana. Mas, como dizem, a vida imita a arte e vice-versa, e talvez venha daí mesmo esse sentimento de incapacidade de se ter uma pessoa como qualquer outra que seja puramente boa, e que isso por si só nos faça felizes, ainda que com lágrimas nos olhos.


Não sei se é tão simples ser Audrey Tautou, Haley Joel Osment ou Will Smith na vida real, mas acho que é tudo uma questão de cada um tentar dentro das suas capacidades. Eu tento e, acho, sou até bem sucedido, nada de Madre Teresa. Mas dia sim, dia não, preciso me dizer que não sou um cara ruim, nem que seja cantando a música do Superguidi e me convencendo que Trevor está certo, ("I guess it's hard for people who are so used to things the way they are - even if they're bad - to change. 'Cause they kind of give up. And when they do, everybody kind of loses.") e que eu não vou ser uma das pessoas que simplesmente desistem. Algumas pessoas podem nem ligar, mas eu sinto que perco comigo mesmo, no mínimo.

"Remember me. Try your best; maybe we can."

Clementine: This is it, Joel. It's going to be gone soon.
Joel: I know.
Clementine: What do we do?
Joel: Enjoy it.



"How hard did you hit your head?"

Pois é, depois de tanto tempo, tantos alunos me enchendo o saco, tantos adultos me surpreendendo por serem fãs e de tanto Robert Pattinson pra lá e pra cá, eu fui ver Crepúsculo, a adaptação cinematográfica dos livros de Stephenie Meyer. E, confesso, esperando uma bomba, daquelas que te fazem passar o filme se mexendo na cadeira e olhando para o relógio. Foi até curioso, mas quando recebi um convite para ir ver o então por estrear Lua Nova, a continuação da saga, brinquei falando que só veria em HD e numa TV de todas as polegadas possíveis, até que umas 3 semanas atrás, isso aconteceu, assim mesmo. E essa semana agora teve a tal continuação.

O primeiro filme é dirigido por Catherine Hardwicke, que já tinha feito o interessante Aos Treze, que conta a história de (atenção!) adolescentes que descobrem o mundo adulto, sexo e drogas, aos treze anos. Já o segundo mudou de mãos, já que o diretor de Lua Nova é Chris Weitz, que tinha feito o bobo A Bússula de Ouro e o ótimo Um Grande Garoto. Isso não deveria ser muito curioso, porque estamos falando de adolescentes e adaptação de livros daquelas que geram milhares de similares ou desenterram porcarias que ganham certa projeção por tratarem do mesmo tempo. Foi assim, por exemplo, com O Senhor dos Anéis, que levou a A Bússula de Ouro, e agora a série de Meyer que gerou uma infinidade de filmes e livros de vampiros, com coisas boas e outras nem tanto. Ou seja, foram chamados os "especialistas", até porque trazer Peter Jackson seria uma piada de muito mal gosto.

Apesar do frenesi, nenhum dos dois filmes têm o calibre pra isso, nem de longe. O elenco tenta, até que é competente, mas ele se debruça horrores sobre Robert Pattinson, que é bonito mesmo, e depois no corpitcho sarado de Taylor Lautner, que passa o segundo filme praticamente todo sem camisa, numa atitude típica do nosso tupiniquim Marcos Pasquim. Só que nunca vi um povo fazer tanta de cara de prisão de ventre como Edward e Bella, os personagens principais do primeiro filme, ou mesmo as caras de "estou enfezado e sou sexy" de Jacob, no segundo filme. Só que... nem isso atrapalha. Os filmes conseguem convencer e, para minha surpresa, divertir. Bobo, mas diverte, apesar de certas partes de ambos os filmes se arrastarem a ponto de fazer a platéia sentir aquela sensação de "Vai logo, por favor?". Cheguei a pensar em Dragon Ball Z e as intermináveis lutas, mas aqui é um beijo, ou uma crise de choro, ou então aquelas cenas clichê do tipo "estamos nos conhecendo e nos apaixonando", sem os sorrisos, risadas e beijos. As cenas de ação do segundo filme, e mesmo alguns dos diálogos, fazem com que ele seja mais interessante e menos arrastado, e isso acho que é mérito de roteiro e de direção.

Bom, a verdade é que são filmes para adolescentes, sem tirar nem por. Qualquer adulto que assiste aos filmes não consegue deixar de achar os personagens infantis e bobos, sendo adolescentes que são, porque não sabem o que fazer e complicam tudo mais do que se precisa. Aqui, porque Edward é um vampiro, Bella é a menina que não se encaixa e fica com uma meia careta, e Jacob é um lobisomem que quer a pele branca e brilhante da vampirada. Só que o vampiro e a moça se apaixonam, e não podem ficar juntos. Daí, o rapaz que é o lobisomem se apaixona pela moça que acaba gostando dele também, mas não esquece o primeiro amor. O que tem de novo nisso? Nada, na verdade. Troquemos a parte de vampiros e lobisomens por ricos e pobres, cristãos, judeus e muçulmanos ou mesmo palmeirenses, corinthianos e bam-- são-paulinhos, e temos a mesma história. O interessante aqui é que não dá pra menina sair dando pros dois, sem saber quem é melhor de cama ou alguma bobagem assim, o que aumenta e bastante a coias do platonismo na relação triangular deles, e isso acaba por funcionar, até. Fica mais do que óbvia a influência de Romeu e Julieta no casal principal, e pelo menos espero que a molecada que lota os cinemas ou faz a alegria das editoras se volte ao bom Bill e suas peças, pelo menos.

Ok, eu não sei muito bem o que escrever sobre esses fenômenos. Sabe quando simplesmente você assiste e acaba gostando, em grande parte pela bomba que eu disse esperar? Mas é aquele gostando cheio de ressalvas que eu tento ignorar, ou estaria xingando o filme. Pra que falar que a construção do enredo do filme é meio tosca, e fica tudo parecendo que são questão de dias, desde a chegada de Bella à escola ao seu amor sem fim por Edward? Pra que falar que é no mínimo ridículo (ou retardado) ela continuar escrevendo os tais e-mails para Alice sendo que ela sabia que eles estavam voltando? Aquelas crises de choro que duraram meses ou os urros nos sonhos são coisas exageradas? O lance foi sentar, relaxar e gozar, seguindo conselho inestimável de nossa mamita, e deu certo. A ponto de querer ler? Não, não. Mas a ponto de querer ver o próximo, até porque a suspeita de uma coisa meio gay entre Edward e Jacob me divertiu, e quero ver como seria um casamento entre duas pessoas (ou algo assim) que se amam, só deram uns 4 beijos, se eu contei direito, e nunca foram pra cama.

Acabou que saí da casa da Maíra, e depois do cinema do Bourbon, com vontade de ver o próximo, e me perguntado ao mesmo tempo o que tinha acontecido comigo. Eu peguei gosto pelos filmes do Arnold Schwarzenegger quando era pequeno, e ele fez mesmo alguns dos marcos no seu gênero (Predador, Comando Para Matar e True Lies, por exemplo), mas pegar certo gosto pelos vampiros, Bella e os lobisomens me fez pensar se eu bati a cabeça e não me lembro.

"No, it does not exist for you. You exist for it."


Alex: I have reflected many times upon our rigid search. It has shown me that everything is illuminated in the light of the past. It is always along the side of us, on the inside, looking out. Like you say, inside out. Jonathan, in this way, I will always be along the side of your life. And you will always be along the side of mine.



"You weren't wrong, Tom. You were just wrong about me."

Quando eu tinha meus antigos 15 anos, minha vizinha Bia me emprestou um filme que ela tinha alugado, Melhor É Impossível. Com dois Oscar na bagagem, um deles para Jack Nicholson (e o outro para Helen Hunt), era difícil não gostar do filme, ainda que fosse na fase em que eu ainda gostava de ver o Bruce Willis e cia. salvarem o mundo do asteróide malvado. Era uma semana à tarde, possivelmente terça ou quinta, e lá fui eu ver um filme em VHS (quanto tempo, não?) com mais de 2 horas. Não saía do sofá, não queria. O filme acabou e eu, eufórico, queria sair de casa correndo pra ir me reconciliar com minha ex-namorada que me dera um pé nos fundilhos não tinha muito tempo, inspirado por Melvin Udall e seu "You make me want to be a better man", o melhor elogio na história do cinema - ao menos, o recente. Ia dar certo, ela ia me querer de novo, e seríamos felizes! Yes! Só que... eu não fui. A casa dela era longe, e aqueles minutos que enrolei pensando na bicicleta e em todas as ladeiras (em Poços de Caldas, não é brincadeira), ou mesmo no tempo que ia dar pra pegar um ônibus e ir até lá. Não fui, e não voltamos, ao menos até o ano seguinte para uma volta relâmpago de uma semana, e uma eventual quase cagada em 2003.

Desde então, eu fico meio cismado com comédias românticas ou filmes que simplesmente tratam de amor. Essa semana eu vi (500) Days of Summer, ou (500) Dias Com Ela. O elenco já me deixava animado, porque eu sou bobo pela Zooey Deschanel e o Joseph Gordon-Levitt teve as manhas de fazer o único filme de adolescentes em colégio com fundo bobinho de que gostei e até hoje gosto, 10 Coisas Que Odeio em Você, o IMDB marca um merecido 8.2 na avaliação e a trilha sonora é das melhores. Não tem como dar errado, tem? E nem dá, mas o filme é um belíssimo soco, de direita, em cheio. Nocaute. Ele é honesto quando diz que não é uma história romântica, e está mais para o que Closer é: uma história sobre o amor, com menos sexo aqui do que lá. Quem até hoje diz que o lance entre os quatro lá, incluindo a linda e tudibão Natalie Portman (as meninas falariam do Jude Law, ou mesmo do Clive Owen), é uma história de amor precisa urgentemente rever conceitos. É sobre S-E-X-O, e foi a Alice que disse "Why isn't love enough?", frase que me persegue. Aqui é sobre amor mesmo, e até chega a parecer que é amor bonitinho, dos que pode dar certo, mas bem pouquinho, com base em um dos truques mais bem sacados do filme, jogar a história para frente (ou seja, com o Tom na fossa) e pra trás, mostrando a conquista e ele todo radiante. Outra montagem fantástica é o contraste entre expectativa e realidade, mas daí eu vou ter que contar o filme e entregar um detalhe fatal e, ao mesmo tempo, brilhante, literalmente.

Mas aí é que está o soco que o filme dá na probre audiência, ainda mais quando ela consegue se ver no filme, seja como o Tom, romântico, ou como a Summer, sincera de doer. Aliás, uma adverência: se você terminou um longo e tenebroso relacionamento, está com dor de alguma coisa, ou simplesmente teve seu coração partido, pense 245 vezes antes de entrar na sala de cinema ou baixar esse filme para seu computador. Apesar de todos os clichês que temos em filmes do tipo que acabam em final feliz, reconciliação ou algo do tipo entre o casal principal, (500) Days não faz isso - e isso não é spoiler, se você tem Tico e Teco pra processar o narrador avisando isso: "This is a story of boy meets girl. But you should know up front, this is not a love story". E foi bem aí que eu fiquei atônito, me vendo no filme como a Summer ou vendo a Autumn acontecendo para outras pessoas, mas nunca para mim, como em 2006. O que me remeteu direto a outro filme que vi esse ano, e achei uma graça. Ah, isso e ao papel da música para começar um relacionamento, e a constatação óbvia e certeira que uma menina de 12 anos faz que eu preciso ouvir com mais frequência sobre gostar de coisas estranhas e ser o soulmate de alguém.

Nick and Norah's Infinite Playlist, no filme, não faz jus ao título. Mas é com a Kat Dennings, é música do começo ao fim, veio de um livro muito bacana e tive uma noitada que lembrou a do filme em junho. É entretenimento, mas eu confesso que fiquei maravilhado com a possibilidade de algo como o que acontece no filme acontecendo comigo, com a Kat me dizendo que eu sou o soulmate dela, me contando sobre o Tikun Olam ("reparar o mundo", ou seja, a prática de uma série de actos que conduzem a um mundo socialmente mais justo) e me fazendo achar o judaísmo mais interessante, enquanto eu me apaixono e dou uma resposta tão boa quanto a do Nick. Claro, eu sei. que ganhar na loteria sozinho é mais fácil. Mas eu fico cheio de esperança, achando que essas coisas acontecem, até porque a Norah é aquela que vai fazer o Nick ver a verdade sobre sua ex namorada bem bitch, ainda que o adjetivo esteja a oceanos de ser apropriado no meu caso.

Daí, vem a Summer e mostra que a Norah é obra de um livro de teen lit. Literatura adolescente, porque essas coisas não acontecem. Melvin Udall nunca conseguiria acertar as pontas com Carol Conelly, que iria embora do restaurante antes de ouvir o elogio. Eu posso estar errado, espero mesmo estar. Espero que exista por aí uma Norah e uma Autumn (a "salvação" para o amor que Closer não tem), ou mesmo um Nick. Alguém pra aceitar o convite espontâneo para um café, que vai zerar o contador dos dias ou fazer a gente cair na vida ao som de You Sexy Thing, acreditando mesmo que o Tom está, esteve e sempre estará certo, e que a Summer em cada um de nós vai aprender a lição, sem deixar muitos corpos no caminho. Espero, porque acreditar... bom, não acredito, pelo menos acho que não. Melhor É Impossível foi há muito tempo, e 2005 tá muito mais recente do que eu queria.

"All I wanna do is grow old with you."

Julia: May I ask what happened with Linda?
Robbie: She wasn't the right one, I guess.
Julia: Did you have any idea she wasn't the right one when you were together?
Robbie: I should have. Uh, I remember we went to the Grand Canyon one time. We were flying there and I'd never been there before and Linda had, so you would think that she would give me the window seat but she didn't and... not that that's a big deal, you know. It's just there were a lot of little things like that. I know that sounds stupid...
Julia: Not at all. I think it's the little things that count.
Robbie: How did you know that Glenn was the right one?
Julia: The right one, ah... I always just envisioned the right one being someone I could see myself growing old with.
Robbie: Yeah.
Julia: And... Glenn would be a really good-looking older man. Like Blake Carrington.
Robbie: I'm gonna probably look like Buddy Hackett.

* * *

Um diálogo, duas na lata. E ainda me perguntam por que eu gosto do Adam Sandler, que sabe fazer coisas muito, muito melhores do que Zohan.

PS: sim, eu me inspirei *cof cof* no seu post, Jana. E tive que rever o filme, mesmo não "podendo".

"Sometimes it's not about knowing the right answer."

Outro dia, alguns anos atrás, li umas resenhas sobre James McAvoy, quando ele tinha feito Desejo de Reparação (numa tradução que acaba por fazer sentido). Acabei vendo Procurado, mesmo com a péssima experiência de Mandando Bala, com Clive Owen e o sempre ótimo Paul Giamatti, e me surpreendi positivamente, ainda que os dois filmes tenha me feito sentir falta do bom e velho Arnold Schwarzenegger, que ainda é O cara dos filmes de ação pra mim, contanto que seja alguma coisa produzida até 1999 e Fim dos Dias.

Mas daí que me chega a Jana com um filme chamado Starter For 10, com o McAvoy (e a Rebecca Hall, mas só fui ver isso depois, e eu tinha acabado de babar por ela em Frost/Nixon). Logo de cara, o filme me pegou, quando eu finalmente fui ver. Como você faz quando se reconhece como um nerd incorrigível, alguém que realmente gosta de estudar, de ser inteligente, mas que é um tremendo idiota pra outras coisas? Sim, estou falando de relacionamentos e mulheres. Mas a fala de cara dele é no alvo para aquelas pessoas que, como eu, não conseguem ignorar o fato de que gostam de usar a massa cinzenta. Segue:

"Ever since I can remember, I've wanted to be clever. Some people are born clever, same way some people are born beautiful. I'm not one of those people."

E o que é o mais legal de um filme desses? Mostrar que não tem nada de errado com isso, NADA. Até me lembrei de Efeito Borboleta, porque o Evan (personagem do Ashton Kutcher) é um cara que estuda, dedicado e bonitão, mas você vê que o cara manja de pesquina neurológica, e tá super de boa com isso. Quando ele é finalmente o bonitão popular, numa das alternativas do presente, é um idiota de república (sim, as tais fraternities deles são nossas repúblicas, então pare de pagar pau pra filme e menosprezar aqueles 4 ou 5 caras "estranhos" que moram no apê do lado e falam alto demais na sacada). Acho que os dois, mas bem mais o James, mostram que dá pra ser nerd, gostar de estudar, ir bem na escola/universidade e nem por isso ser aquele cara mala que acaba sendo, ao mesmo tempo, menosprezado e respeitado pela sala, frequentemente procurado em véspera de provas. Até nossos pais ficam com uma pulga atrás da orelha (ei, a mãe dele acha que ele pode ser gay!).

Também é legal ver que o cara, apesar de ser inteligente, se enrola com mulheres (bonitas), faz lá suas besteiras, fuma e bebe (a cena do sanduíche na madrugada é tão impagável quanto a do ano novo dá raiva), tem seus momentos de glória, amigos pra valer (ei, adoraria ganhar uma fita pra quando eu fosse sair de casa, mas sem furação de olhos) e, no fim das coisas, meio que acerta. De um jeito meio torto, mas acerta, e faz a coisa certa. E é aí que a escolha pelo James McAvoy pode ter feito a diferença, porque ele como assassino é... ok. Como um trabalhador injustiçado, beleza. Mas como o nerd? Perfeito! Palmas em pé para ele! Acho que porque no fundo você consegue ver que ele é good-hearted mesmo, nenhuma das mancadas ou besteiras é por maldade. Como tanta gente que é nerd acaba fazendo, a não ser que seja daqueles gordos nerds que são maldosos e revoltados com o mundo. Nada contra gente mais "forte", mas é a figura do gordo nerd meio bicha (ou pedófilo) e sujo que me irrita.

Agora, acho que o mais bacana do filme, além de trazer um voto de confiança pra quem também gosta de estudar através da simpatia instantânea que o Brian Jackson (ah, sim: esse é o nome do personagem) gera, é a idéia de que a gente consegue resolver nossos pepinos, por pior que eles sejam. É meio babaca, é aquela mensagem à Paulo Coelho, mas no fim das contas mostra que mesmo quem tem essa coisa de nerd não tem respostas pra tudo, mas pelo menos sabe que elas estão por aí, é só saber onde procurar - e é aí que a inteligência faz toda a diferença, além de na prova de Física ou de Direito Civil. Não é um filme fantástico, não. Um filme legal, eu diria, mas que me fez eu me ver a mim mesmo ali, na tela do meu PC, fazendo as mesmas cagadas, orgulhoso pelo uso que eu faço do meu cérebro, sem ter vergonha disso. Pelo contrário, tanto orgulho que estampo isso no peito na minha camiseta.

Cooming Soon

Quando se tem a chance de passar algumas horas de bobeira na frente do PC no meio da semana, você inevitavelmente cai no IMDb, se for um cinéfilo assumido e corrompido como eu. Daí que me veio fazer um Top 5 de filmes que eu quero ver ainda esse ano, mas como (des)graça pouca é bobagem, resolvi pensar em todos que eu quero mesmo ver, e até mesmo explicar.

A ordem tem algum sentido pelas datas, não por preferência. E acho que isso aqui tá mais interessante que o folhetinho do Cinemark, hein? Não se esqueça de imprimir e guardar na carteira.

1. The Hangover (21 de agosto)
O trailer pareceu absurdamente divertido, e filmes em Vegas costumam ser divertidos.

2. 9 (11 de setembro)
Animação pós-apocalíptica, sem humanos? Interessante, não? Ainda mais quando é produzido por Tim Burton.

3. Los Abrazos Rotos (24 de setembro, no Festival Internacional do Rio de Janeiro)
O mais novo de Almodóvar, sempre com a adorável e ótima Penélope Cruz.

4. The Informant! (9 de outubro)
Matt Damon e Steven Soderbergh juntos, com produção de George Clooney, em filme sobre fatos reais e mundo corporativo. Precisa mais?

5. Shutter Island (9 de outubro)
Uma nova parceria entre Leonardo DiCaprio e Martin Scorsese, com um elenco bem competente, merece ser visto com bons olhos.

6. A Serious Man (9 de outubro)
Depois dos fantásticos Onde Os Fracos Não Têm Vez e Queime Depois de Ler, os irmãos Cohen voltam. E eu acompanho.

7. The Boat That Rocked (16 de outubro)
Junte Philip Seymour Hoffman e um filme baseado em história real sobre música que sai coisa boa, garantido. Quase Famosos tá aí pra provar isso.

8. Inglorious Basterds, (23 de outubro)
Brad Pitt, Tarantino, Guerra sem melodrama Spielbergiano.

9. District 9 (30 de outubro)
Peter Jackson resolve fazer ficção, depois de ter lido The Lathe of Heaven, ao que me parece.

10. (500) Days of Summer (13 de novembro)
Zooey Deschanel e um trailer com The Smiths de uma história de amor que, bem, não é de amor.

11. 2012 (13 de novembro)
Filmes-catástrofe já deram, mas esse parece ser no mínimo curioso e tem John Cusack.

12. Zombieland (4 de dezembro)
Porque todo mundo tem direito a uma porcaria ou outra, e porque filmes de zumbis são legais.

13. Where The Wild Things Are (1 de janeiro de 2010)
Sei que é ano que vem - aqui no Brasil -, mas é o mesmo Spike Jonze que trabalha com Charlie Kaufman, fazendo um filme sobre o mundo infantil. Não vejo onde pode dar errado.

14. Sherlock Holmes (8 de janeiro de 2010)
Outro que é pro ano que vem (não pros norte-americanos), mas não dá pra deixar de ficar animado com Guy Ritchie trabalhando com Robert Downey Jr. e Jude Law, pra finalmente fazer um filme sem um Holmes nojento. Ao menos, é o que o trailer dá a entender.

15. Funny People (?)
Adam Sandler fazendo meio que ele mesmo numa comédia mais séria, com o pessoal de O Virgem de 40 Anos e outros tantos filmes ótimos, dirigido por Judd Apatow. Outro que não pode dar errado, e vem para apagar Zohan.

Aceitamos reservas, mas somente nos cinemas.

"That's not what Optimus would want."

O primeiro Transformers me decepcionou horrores, a ponto de eu não comprar o DVD que estava a R$ 10 na locadora aqui perto de casa. Ver Optimus Prime com boca e piscando, Jazz virar um manobot, o filme girar em torno de um Sam bobo (alguém aí disse Shia LeBeouf?) que fica o tempo todo correndo atrás de uma mulher (tudo bem, é a Megan Fox), um Starscream realmente leal ao Megatron e piadas desnecessárias... foi de chorar, e pelo menos eu não fui ao cinema. Daí, agora sai o segundo filme, com uma tradução péssima no nome que dá pra entender, e com... Michael Bay de novo. Shia LeBeouf de novo. E a boca do Optimus Prime continua lá.

Sem ficar falando do filme em si, que pode até ser melhor do que o primeiro - ou me decepcionou menos, porque eu sabia o que esperar -, foi curioso como ele me fez pensar em duas coisas: na Veja e no Rubens Ewald Filho, sujeito que sempre me irritou mas fez uma crítica que faz sentido. Primeiro, quando a Veja falou sobre Nova Iorque Sitiada, em 1998, falou sobre os filmes de Hollywood que enrolam a ponto de você ficar com raiva, porque não precisava, e dava pra tirar uma meia hora do filme tranquilamente que nada ia ser comprometido. Era o caso do filme em questão (116 minutos) e de Encontro Marcado, aquela lenga-lenga com Brad Pitt de 178 minutos, do mesmo ano. O novo Transformers: A Vingança dos Derrotados tem seus 150 longos minutos, e dava pra tirar - o quê? - uns 30 ou mais dele, sem perder nada de bom que o filme tem. Afinal de contas, qual a importância de ver festas de faculdade, uma mãe que come space cakes dando piti no campus, uma baboseira de diálogos vazios entre militares pra ver quem é mais macho? Megan Fox é linda, mas é preciso MESMO ficar vendo ela se levantando sempre em câmera lenta, pra dar aquele contraste entre os olhos dela e a areia? Não, não precisa. É pra isso que servem edição e extras no DVD, mas parece que tem gente que gosta. Quem riu da piada das "bolas" do Devastator precisa seriamente faz um teste de QI.

Claro, alguém pode me dizer "E você queria o quê? Você tava vendo um blockbuster de Hollywood com o Michael Bay!" ou algo do tipo, mas eu contra-argumento: existe vida inteligente nos blockbusters que só têm por função divertir. Pena que às vezes ela é deixada de lado por completo.

Daí me vem a parte do Rubens, o "grande" crítico de cinema brasileiro. Ele andou me surpreendendo com o que disse sobre alguns filmes recentes, finalmente deixando a diversão por diversão no cinema entrar na sua vida. E ele acertou uma em cheio sobre Optimus Prime e cia: é demais. Tem horas que não dá pra entender absolutamente NADA do que está acontecendo na tela, quem está atirando em quem, onde eles estão. Já me acostumei com cenas visualmente poluídas, mas a batalha no deserto do Egito (aliás, esses desertos com construções que aparecem do nada são bem curiosos) me deixou mais perdido em cego em tiroteio, literalmente. A correria na China também, mas essa dava pra acompanhar um pouco melhor, ainda que eu não entenda qual o motivo por que um diretor tem que colocar a câmera grudada no que está acontecendo. Se eu quero ver, por exemplo, a transformação do Devastator, pode ser um pouco mais de longe, pra ver o bendito Decepticon montado, e não um monte de ferro todo colorido. Mas não, tem que ser tudo colado. Uma pena, porque quando o serviço é bem feito, como a briga na "floresta", o resultado é muito bom, e esse braço eu dou a torcer: fora as bocas e olhos que piscam, Michael Bay deu mesmo vida aos Transformers todos.

Agora, mais curioso de tudo foi ver a importância da conversa sobre quem diz "I love you" primeiro, Sam ou Mikaela. Claro, não tinha o menor sentido ou importância para com o resto do filme, mas foi estranho e até legal ver como finalmente alguém relutou em dizer, não foi aquele caso de namorico de 2 meses em que todos se amam, para dali a 3 meses estar amando profundamente outra pessoa. Sam diz isso primeiro para Bumblebee, um robô, mas para a namorada ele não consegue. Será a salvação do tão banalizado "Eu te amo"? Espero que pelo menos isso fique na cabeça da molecada que lota os cinemas. Acho que o nobre (e fodão) Optimus Prime ia gostar disso, se acontecesse, porque as piadas e os excessos do filme, além da sua boca... acho que ele não ia querer tudo isso.

"Today is tomorrow. It happened. "

Não dá pra negar que a possibilidade de voltar no tempo e refazer certas (muitas) coisas é atrentíssima para qualquer um, especialmente pra quem já delicadamente enfiou os dois pés na jaca ao mesmo tempo, seja tomando aquele porre e fazendo merda, seja falando uma coisa infeliz que magoou alguém querido - pra não falar de ex. Só de imaginar a possibilidade, dá pra começar a viajar e até pensar se a gente faria alguma merda como o Ashton Kutcher em Efeito Borboleta. Mas não dá, né?

Só que eu queria porque queria ter um Dia da Marmota pra mim. Esse simpático roedor é o mote pra um dos filmes mais bacanas que tratam dessas possibilidades alternativas sem viajar demais (é... mais ou menos), mostrando como seria se a gente acordasse todo dia pra reviver um dia X (no caso, dia 2 de fevereiro, o Dia da Marmota - daí o nome do filme em inglês, que aqui tem o péssimo nome de Feitiço do Tempo). Não precisaria viajar pra quando eu quisesse, ou mesmo ter a chance de mudar o curso de uma guerra, impedir o assassinato de Getúlio Vargas ou dar impedir o homem de descobrir o fogo. Seria uma coisa muito mais simples, pessoal e egoísta, pra ser feito em 24 horas, sem direito a repeteco, até porque seria desesperador.

Eu ia querer poder dizer coisas que eu geralmente não digo, só pra poder ver as reações, principalmente. Quem nunca quis chegar pro sogro, por exemplo, e soltar um "O senhor pode nem imaginar, mas sua filha mete que é uma beleza, viu? Já fizemos de TUDO!," ou mesmo pros nossos pais e soltar umas coisas dessas? Andar pelado na rua, ou na casa de amigo ou namorado, como se não fosse nada, pra ver as expressões de incredulidade? Chegar em sala de aula e falar todo tipo de palavrão e contar piada, além de falar pros alunos queridos que você acha que todos ali são ou pelo menos agem como retardados, têm mais é que se fuder e isso sem eufemismos? Acho que eu ia querer também poder me "declarar" pra todo mundo por quem eu senti algum tipo de atração, de física a gostandinho, só pra saber se a pessoa teria topado. Realizar a mais louca fantasia sexual que eu tivesse, sem medo do que viria a seguir, seja DST ou filho ou mesmo fama. Pensei em ainda passar um xaveco em chefe, pra por um momento acreditar que aquelas coisas de filmes acontecem, ou então pedir demissão com um dedo do meio em riste, na frente de todos. Acho que eu ia fazer alguma coisa que devastasse qualquer tipo de economia que eu tenho ou possa ter, como fazer uma daquelas ponte-aéreas São Paulo - Miami que as novelas da Globo têm, e dirigir um Dodge Viper feito um louco num circuito. Tomaria, com certeza, uma bela xícara de chá de cogumelo, já no fim do dia, pra saber se a viagem é tão forte quando dizem ser.

Pra fechar o dia, faria o que o Bill Murray faz tantas vezes no filme: me mataria, pra ter a experiência do que é morrer, e saber o que é isso. Outro dia ainda tava pensando que é algo único, literalmente, mas é mind blowing só pensar na possibilidade de saber como é e voltar pra contar. Não, eu não tenho tendências suicidas, mas é a vontade de experimentar coisas, só isso. Agora, eu só não sei como faria isso, mas de asfixia ou algo do tipo é que não seria, Deus me livre. Nem dormindo, porque eu ia querer ver acontecer. Provavelmente voando, como que depois de pular de algum lugar, alto o suficiente pra não me estatelar no chão e continuar vivo e com dor.

Tudo isso em 24 horas, sem pretensões de causar o caos que se explica no "efeito borboleta". Só queria saber como as pessoas seriam, ou reagiriam, e ter a mais plena experiência de vida. Será que daria tempo pra fazer tudo? Na dúvida, eu queria que o Phil saísse do buraco pra falar do inverno pelo menos três vezes.

"So, why bullshit?"

Quando o Motörhead anunciou que voltava ao Brasil (e eu vou perder, de novo), me lembrei na hora de uma matéria na extinta Bizz sobre o show: é bom, porque você sabe o que vai ver, e não quer saber de nada de novo. Faz sentido, não? Ninguém iria a um show do Led Zeppelin esperando ouvir músicas novas. Ou mesmo o do Michael Jackson. Não, você sabe exatamente o que quer ouvir, e talvez a maior parte das coisas seja mais velha do que metade da platéia - e eles tocam, e por isso o show é bom.

Mais ou menos a mesma coisa acontece com certos filmes. De uns tempos pra cá, Hollywood entrou numa onda de voltar a séries "extintas", a começar por Rocky Balboa, passando por Duro de Matar 4.0, dando uma sapecada em Rambo IV e chegando, finalmente, a Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal e ao novo Velozes e Furiosos 4. Dos cinco filmes, curiosamente quatro deles são justamente os quartos de cada série, e é neles que eu quero focar, em especial em Harrison Ford e a dupla Vin Diesel e Paul Walker. Ano passado, depois de ver o filme com a Lígia, fiquei com isso na cabeça, mas hoje o VF 4 me deu a faísca que faltava.

A série de Indiana Jones é uma das coisas mais bacanas que o cinema, ou Hollywood, produziu. Aventura, bons elencos, charme, histórias empolgantes, boas cenas de ação, humor na dose certa... e vem esse quarto filme. Enquanto um filme de aventura, até que é bom, cumpre seu papel. Mas seu maior trunfo, ser um Indiana Jones, é justamente o que faz com que ele seja tão decepcionante. Talvez por ser meu favorito, mas A Última Cruzada é tão bom que parece ser até sacanagem ver esse último, um desrespeito. Uma história até que boa, mas o filme tem clichês, erros fatuais (perae, se Indy escolheu o cálice certo no terceiro filme, como ele pode ter envelhecido e seu pai morrido? Opa!), o Shia LeBeouf todo malandro - até demais -, e uma coisa que é irritante, mas dá pra entender. Entre A Última Cruzada e O Reino da Caveira de Cristal, foram longos (demais) 19 anos. Nem o Guns n' Roses demorou tanto pra lançar Chinese Democracy, mas aí são outros quinhentos. Daí, a pergunta: como trazer toda uma geração que nasceu entre os filmes para o que seria um Indiana Jones e, ao mesmo tempo, mostrar para todos os fãs que esse filme é uma continuação?

Isso foi justamente o que me fez pensar hoje, vendo carros pra um lado, mulheres e o Vin Diesel de regata o tempo todo - menos no fim. O primeiro filme da franquia, que é divertido e fez lá seu sucesso, de 2001, é bacana, sem dúvidas. Filme pra divertir, e é exatamente a isso que se propõe o quarto - e daí fazem sentido os títulos dos filmes em inglês, pela proximidade, porque eles conseguem algo que Indiana Jones tentou, mas escorregou: puxar pela memória. Como? Falas, carros, clichês, piadas. O Dodge Charger que Dom arrebenta no final do primeiro está lá (e faz parte de um erro absurdo, mas realmente grotesco do filme, mas seria spoiler contar), a "piada" com dever o carro de 10 segundos, a marca Corona da cerveja, a prece na mesa (diferente, mas como não lembrar?), mas pelo menos dessa vez os carros não parecem mais Hot Wheels pintados demais. Foram 8 anos e dois filmes bem ruins entre 2001 e hoje (na história, são 5), e esses "gatilhos" de memória cumprem bem o papel, até porque não fazem nenhuma referência a qualquer coisa que poderia ter se passado entre eles. Dá até pra assistir ao primeiro e ao quarto, e você pega tudo. Até mesmo o Brian parece ter esquecido seu lado mano malandro do segundo, o que ajuda pacas - deu pra perceber que eu gostei do filme?

Infelizmente, não dá pra se dizer o mesmo para Indiana Jones, até porque... bom, porque é um Indiana Jones, e ele não precisava socar coisas no meio pra fazer você pensar. Os primeiros filmes vêm de um tempo quando não se tinha essa enxurrada de coisas, são marcos no seu estilo e, sinceramente, quem não conhece que vá atrás - a caixa de DVDs existe pra isso, até empresto a minha. Colocar a arca de Caçadores da Arca Perdida no depósito, falar de Marcus Brody e fazer cara de choro, as piadas com o nome Junior... sei lá, ficaram forçadas, até porque elas eram colocadas no meio de tudo pra ver se alguém ali no meio do cinema soltava um "Ah, é mesmo!" e de repente tudo fazia sentido. Pode até ser juízo de valor (e errado), mas Indiana Jones não precisa disso, como eu já disse. O final "grande", exagerado, digno de uma superprodução que tem que apostar em efeitos especiais pra compensar o filme meia boca também deixa sua marca pra decepção, mas dá pra entender. Hoje, talvez, uma coisa simples como as cenas no templo do Santo Graal não fossem o suficiente, ao menos pra agradar a uma platéia de jovens que saem de filmes como Velozes e Furiosos 4 dizendo que são filmes bons. Não divertidos: bons. Pior ainda se for alguma porcaria do tipo Deu a Louca em Hollywood, porque gente pra achar bom deve ter.

No fim das contas, me vem que a frase do título, usada por Vin Diesel, é a verdade: pra que enrolar? Do mesmo jeito que Velozes e Furiosos 4 sabe o tipo de filme que é e o que pode fazer em cima disso, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal deveria ter feito. Fico aqui pensando na próxima sequência "ressucitada" que vamos ver, e rezando para que quem tiver o projeto nas mãos não faça asneiras, porque nós sabemos muito bem o que queremos ver, obrigado.

"Right, crikey."

Mark Darcy: I don't think you're an idiot at all. I mean, there are elements of the ridiculous about you. Your mother's pretty interesting. And you really are an appallingly bad public speaker. And, um, you tend to let whatever's in your head come out of your mouth without much consideration of the consequences... But the thing is, um, what I'm trying to say, very inarticulately, is that, um, in fact, perhaps despite appearances, I like you, very much. Just as you are.


Bridget: You once said you liked me just as I am and I just wanted to say likewise. I mean there are stupid things your mum buys you, tonight's another... classic. You're haughty, and you always say the wrong thing in every situation and I seriously believe that you should rethink the length of your sideburns. But, you're a nice man and I like you. If you wanted to pop by some time that might be nice... more than nice.

* * *

A gente tem mais é que aprender a ver essas coisinhas, saber relevar, adaptar, mudar e, mais importante, ter a capacidade não só de dizer e mostrar como o "Just as you are", mas também de ver isso nos outros para com a gente - se deixar acreditar na fala.

"You've blown out my light."

Philip Seymour Hoffman é um baita ator, isso não deveria ser novidade pra ninguém que gosta de cinema. Capote, apesar de ser um filme relativamente fraco, se mantém nas costas dele, numa atuação de dar medo, especialmente quando se compara o ator ao escritor, nas filmagens reais. Meu primeiro contato consciente com ele foi em Quase Famosos, como Lester Banggs, e já assustava, eu sou fã do filme, pé direito. Mas hoje ele me surpreendeu.

Maryl Streep está mais velha, fato, e sabe encarnar uma megera como poucos, porque no fim das contas você se pega não odiando a personagem dela, como em O Diabo Veste Prada, que foi meio nhé. Mas eu ainda me lembro dela novinha em A Casa dos Espíritos, ou em Adaptação, e suspiro, até porque ou ela me fez gostar mais ainda do filme, ou o filme me fez cair de vez por ela. Mas não é um caso de MILF, é diferente.

Os dois juntos em Dúvida, bem bom, que eu fui ver hoje, enchem os olhos, especialmente quando você tira os outros da cena que, coitados, ficam quase que como empecilhos, sem tirar os méritos de Amy Adams, super bem no filme também. As duas cenas dos dois na sala da diretora, sem fazer spoiler, me pararam e me fizeram ter uma coisa meio mixed emotions que me assustou, mesmo.

Veja bem: eu sou babão pela Maryl Streep, e ela esnobando num papel que levanta certas indignações me fez ver, nela, a minha mãe. Ao mesmo tempo, admiração e raiva? Amor e ódio? Fiquei meio aturdido, e me perguntando se um dia na vida eu vou ver minha mãe chorando, fazendo uma confissão, num banquinho ao pé de uma árvore.

"Goodnight, Benjamin"

Hoje, eu pensei em escrever um post de certa forma com um quê de resenha crítica, sobre um personagem que é um paradoxo sem nem mesmo tentar, protagonista de uma fábula sobre o tempo. Um texto mostrando como algo é bom como disseram, ou mesmo tentando convencer quem não viu a coisa através dos meus olhos a enxergar um pouco por eles e ver a mágica que eu vi. Pensei mesmo, até que acabou, e eu vi que não ia conseguir.

Eu ri e eu chorei. Eu me identifiquei com certas situações, me emocionei com outras. Eu fiquei pensando no tempo e nas possibilidades, tanto nas que temos quanto nas que deixamos de aproveitar, e como isso pode mudar tudo. Eu pensei em como pequenos detalhes podem mudar o curso de nossas vidas, sem que saibamos ou possamos perceber. Eu pensei em o que é ficar sozinho e no medo que temos disso. Eu pensei nos meus pais, na minha avó, nos meus amigos - pensei nas pessoas que amo. Eu pensei em como passamos nossas vidas nos desencontrando, mas que ao mesmo tempo tudo acontece na hora certa, mesmo os encontros e, especialmente, os desencontros. Eu pensei em como eu tenho reclamado da vida, quando você tem pessoas que teriam muito mais motivos para fazê-lo, e ainda assim não o fazem. Eu pensei em tristezas e alegrias que eu tive, tenho e talvez vá ter na vida. Eu pensei em sacrifícios por amor que somente os pais conseguem fazer. Eu quis ter a capacidade, como nunca, de conseguir decorar um script inteiro, do começo ao fim, porque vi diálogos muito mais interessantes do que em outros tantos filmes. Eu fiquei maravilhado, me sentindo diferente. E eu me apaixonei por Cate Blanchett, me rendi a Brad Pitt.

Hoje, eu fui ver O Curioso Caso de Benjamin Button.