"Sometimes it's not about knowing the right answer."

Outro dia, alguns anos atrás, li umas resenhas sobre James McAvoy, quando ele tinha feito Desejo de Reparação (numa tradução que acaba por fazer sentido). Acabei vendo Procurado, mesmo com a péssima experiência de Mandando Bala, com Clive Owen e o sempre ótimo Paul Giamatti, e me surpreendi positivamente, ainda que os dois filmes tenha me feito sentir falta do bom e velho Arnold Schwarzenegger, que ainda é O cara dos filmes de ação pra mim, contanto que seja alguma coisa produzida até 1999 e Fim dos Dias.

Mas daí que me chega a Jana com um filme chamado Starter For 10, com o McAvoy (e a Rebecca Hall, mas só fui ver isso depois, e eu tinha acabado de babar por ela em Frost/Nixon). Logo de cara, o filme me pegou, quando eu finalmente fui ver. Como você faz quando se reconhece como um nerd incorrigível, alguém que realmente gosta de estudar, de ser inteligente, mas que é um tremendo idiota pra outras coisas? Sim, estou falando de relacionamentos e mulheres. Mas a fala de cara dele é no alvo para aquelas pessoas que, como eu, não conseguem ignorar o fato de que gostam de usar a massa cinzenta. Segue:

"Ever since I can remember, I've wanted to be clever. Some people are born clever, same way some people are born beautiful. I'm not one of those people."

E o que é o mais legal de um filme desses? Mostrar que não tem nada de errado com isso, NADA. Até me lembrei de Efeito Borboleta, porque o Evan (personagem do Ashton Kutcher) é um cara que estuda, dedicado e bonitão, mas você vê que o cara manja de pesquina neurológica, e tá super de boa com isso. Quando ele é finalmente o bonitão popular, numa das alternativas do presente, é um idiota de república (sim, as tais fraternities deles são nossas repúblicas, então pare de pagar pau pra filme e menosprezar aqueles 4 ou 5 caras "estranhos" que moram no apê do lado e falam alto demais na sacada). Acho que os dois, mas bem mais o James, mostram que dá pra ser nerd, gostar de estudar, ir bem na escola/universidade e nem por isso ser aquele cara mala que acaba sendo, ao mesmo tempo, menosprezado e respeitado pela sala, frequentemente procurado em véspera de provas. Até nossos pais ficam com uma pulga atrás da orelha (ei, a mãe dele acha que ele pode ser gay!).

Também é legal ver que o cara, apesar de ser inteligente, se enrola com mulheres (bonitas), faz lá suas besteiras, fuma e bebe (a cena do sanduíche na madrugada é tão impagável quanto a do ano novo dá raiva), tem seus momentos de glória, amigos pra valer (ei, adoraria ganhar uma fita pra quando eu fosse sair de casa, mas sem furação de olhos) e, no fim das coisas, meio que acerta. De um jeito meio torto, mas acerta, e faz a coisa certa. E é aí que a escolha pelo James McAvoy pode ter feito a diferença, porque ele como assassino é... ok. Como um trabalhador injustiçado, beleza. Mas como o nerd? Perfeito! Palmas em pé para ele! Acho que porque no fundo você consegue ver que ele é good-hearted mesmo, nenhuma das mancadas ou besteiras é por maldade. Como tanta gente que é nerd acaba fazendo, a não ser que seja daqueles gordos nerds que são maldosos e revoltados com o mundo. Nada contra gente mais "forte", mas é a figura do gordo nerd meio bicha (ou pedófilo) e sujo que me irrita.

Agora, acho que o mais bacana do filme, além de trazer um voto de confiança pra quem também gosta de estudar através da simpatia instantânea que o Brian Jackson (ah, sim: esse é o nome do personagem) gera, é a idéia de que a gente consegue resolver nossos pepinos, por pior que eles sejam. É meio babaca, é aquela mensagem à Paulo Coelho, mas no fim das contas mostra que mesmo quem tem essa coisa de nerd não tem respostas pra tudo, mas pelo menos sabe que elas estão por aí, é só saber onde procurar - e é aí que a inteligência faz toda a diferença, além de na prova de Física ou de Direito Civil. Não é um filme fantástico, não. Um filme legal, eu diria, mas que me fez eu me ver a mim mesmo ali, na tela do meu PC, fazendo as mesmas cagadas, orgulhoso pelo uso que eu faço do meu cérebro, sem ter vergonha disso. Pelo contrário, tanto orgulho que estampo isso no peito na minha camiseta.