Quiz

Simplesmente sensacional! De cara, dá pra identificar uns 9, mas é pra ficar dias... e horas de expediente. Oh, boy.

"We all got it coming, kid."

Assistir a um western é uma sensação curiosa, especialmente para quem nasceu dos anos 80 pra frente. Nós não crescemos vendo John Wayne, Henry Fonda, Charles Bronson (ok, esqueçamos Desejo de Matar por alguns minutos), James Coburn e outros tanto cowboys que levaram nossos pais e avós ao cinema. Nós não tivemos o prazer de irmos ver os chamados western spaghetti, como os tantos filme de Sergio Leone. Hoje são feitos alguns filmes do gênero, como Os Indomáveis ou Appaloosa mas... falta alguma coisa. E não é puro saudosismo, mesmo porque eu sou de 1984. Hoje em dia, diante de tantos recursos, diantes de um Avatar da vida, é até curioso ver um filme de "mocinhos e bandidos", um bang bang, como minha tanto gosta de dizer, seja ele novo ou de 1968, como o clássico Era Uma Vez no Oeste.

Mas, por outro lado, é um privilégio poder ver uma pérola como Os Imperdoáveis (Unforgiven), o clássico de 1992, de ninguém menos que Clint Eastwood, hoje talvez mais conhecido por filmes como Menina de Ouro (2004) ou Gran Torino (2008), ou seus dois filmes de guerra feitos praticamente ao mesmo tempo, o magnífico Cartas de Iwo Jima e o irmão pobrezinho, A Conquista da Honra, ambos de 2006. Clint Eastwood é uma lenda viva do cinema, ícone máximo do cinema "macho", e sua biografia é uma coisa impressionante de se ler. E ao mesmo tempo é um diretor de primeira, que consegue, ao mesmo tempo, ter filmes duros e sensíveis, com personagens, por vezes interpretados por ele mesmo, que têm os dois lados (duro com os filhos, mas sensível com os vizinhos coreanos), como o Walt Kowalski de Gran Torino.

E Walt tem um predecessor chamado Bill Munny, o cowboy de Os Imperdoáveis. É um filme impressionante, com uma fotografia de cair o queixo (ver a imagem de dois cowboys andando a cavalo contra o pôr-do-sol ainda é impressionante) e tem... bom, tem Clint Eastwood. E Morgan Freeman, como Ned Logan, o grilo falante de Munny. E Gene Hackman, como o violento xerife "Little" Bill Daggett. E tem um roteiro sensacional, que mostra como um fora-da-lei ruim pode ser um homem bom, mas que, aos poucos, volta a ser... bem, ele mesmo. As epígrafes do começo e do fim do filme são importantes, marcando o ponto em que Munny estava e a que volta posteriormente, mas o enredo dá ao espectador o prazer de ver Munny/Eastwood tornar-se Munny/Eastwood. Do mesmo modo como ele deixa sua vida de lado por uma paixão (epígrafe I), ele volta a ser por outra, dessa vez pela paixão da amizade com Ned Logan, cruelmente assassinado pelo xerife (atuação magnífica de Hackman, a ponto de não ser possível sentir raiva dele). Mas não é um caminho sem volta (epígrafe II), do mesmo jeito que o lado bom dele não é. Cultura herdada dos western spaghetti (Eastwood ganhou muito da sua fama com esse gênero), em que não é fácil ver mocinhos e bandidos, cowboys e índios, mas homens bons levados ao seu limite e homens maus que ganham sua simpatia por fazerem o que é "certo". Como ele diz, todo mundo está sujeito a bons e maus acontecimentos, explicando sua visão dura e certa de mundo ao jovem parceiro, Scholfield Kid.

De um homem dócil, até, se chega à entrada final em New Whiskey (uma das melhores cenas que já vi, com a chuva e a garrafa de whiskey jogada no chão depois de 11 anos de sobriedade, do ponto de vista do cavalo, fantástico!) de um homem disposto a se vingar, mas das pessoas certas, pelos motivos certos, que volta a ter as habilidades uma vez enferrujadas, mas nunca perdidas (o tiroteio final no bar de Skinny é uma ilustração de absolutamente tudo que é dito no filme, especialmente as narrativas para Beauchamp, o escritor). Munny sai do bar exatamente do modo que ele tanto tentava deixar pra trás, profetizando "You better bury Ned right!... Better not cut up, nor otherwise harm no whores... or I'll come back and kill every one of you sons of bitches", mas não como o homem que passa a maior parte do tempo bêbado ou mata mulheres e crianças, que já matou tudo "that walks or crawled at one time or another". Como ele anuncia diante de todos, "I'm here to kill you, Little Bill, for what you did to Ned", depois de finalmente admitir seu passado, mostrando como é possível que o protetor pode, às vezes, fazer as vezes do matador a sangue frio (um recado para os EUA, talvez?).

Não dá pra não ver e admirar Clint Eastwood em cena, mas eu tenho que admitir: nem como o pistoleiro sem nome nos filmes de Sergio Leone (como Três Homens em Conflito, de 1966) eu tinha ficado tão impressionado com ele, com uma personagem, com um enredo que até tem ares de desculpas por uma carreira tão voltada para violência (além de tudo, ele foi o policial "Dirty" Harry Callahan, do melhor estilo "atire primeiro, pergunte depois"), com um homem que busca sua própria redenção diante de uma vida desgarrada sem, no entanto, conseguir efetivamente deixar esse seu lado para trás.

É um bang bang, mas dos filmes mais bonitos que já vi, com uma cena tão marcante quanto a entrada dele na cidade para o matadouro do bar, quando ele nem sabe direito quem mata, só acha que deu sorte na ordem. Duro, violento, mas ao mesmo tempo sensível. Esse é o nosso Clint Eastwood, em comparação àquele que nossos pais iam ver no cinema e por quem vibravam, e por isso talvez nosso prazer, pelo menos pensando nele, é infinitamente maior do que o dos nossos pais.

Retrospectiva do Cinema Brasileiro 2010

Isso é mais do que qualquer coisa um serviço de utilidade pública, especialmente pro pessoal que tem a péssima mania de achar que a grama do vizinho hollywoodiano, europeu ou inglês, até mesmo argentino, é mais verde: o Cine SESC, uma das salas mais gostosas e interessantes na cidade de São Paulo está, até o final do mês, um projeto chamado... bom, Retrospectiva do Cinema Brasileiro. Todo ano eles fazem isso, assim como no primeiro semestre rola aquela eleição para os melhores filmes do ano anterior e acontece uma mini mostra, de coisa de um mês. E o melhor: tudo a módicos R$ 4,00 - numa cidade onde um cinema que não tem nada de mais com o Bristol cobra algo em torno de R$ 20.

Fiquei louco quando vi, porque eu ia/vou poder sanar algumas deficiências do ano e da vida. Reflexões de um Liquidificador, filme que me lembrou bastante o ótimo Estômago (2008), foi o primeiro a sair do caminho, no sábado, às 2 da tarde, com o cinema vazio, vazio - e um foco de lascar ("Acorda, projetista!"). E mesmo quem torce o nariz pode ir ver "na marra", depois culpa algum amigo mais nerd e pensa que foram só os tais R$ 4,00, que os flanelinhas perto do Mackenzie acham justo por dois dias  parando o carro pra eles "cuidarem". Háh! Mas o legal foi que eles tinham um livretinho mega bem feito, com sinopses e levantamentos interessantes de todos os filmes, o que é ainda melhor quando se está na companhia de alguém que efetivamente estuda e entende de cinema, especialmente o brasileiro, e pode te dar várias dicas do que assistir. Muito, mas MUITO melhor do que qualquer livretinho de Cinemark e mesmo do Espaço Unibanco. E de graça. E tem gente que nem fica sabendo. Ou se fica torce o nariz porque parece minha mãe que só de ouvir falar em cinema brasileiro pensa que a coisa vai ser ruim. Ela achou, por exemplo, que Cidade de Deus  (2002) não prestava porque, entre outras coisas irrelevantes e vergonhosas, se falava palavrão demais no filme. Falou isso pra mim, que uso 'porra' como vírgula e 'caralho' é vocativo.

Daí que, além de querer ver Tropa de Elite 2 de novo, já tinha metido na cabeça que ia criar vergonha na cara e encarar também As Melhores Coisas do Mundo, pelo menos. Já foi pro saco, de novo, e também por causa do Corinthians no domingo - e eu sabia que não ia valer a pena. Mas daí tem um Do Começo ao Fim na quarta-feira, dia 08, às 22h, ou um Antes que o Mundo Acabe dia 13, segunda-feira, às 20h. Que tal Insolação, dia 18, sábado, às 16h? Os horários e a disponibilidade foi bastante afetada por motivos ótimos, mas ainda assim tem espaço pra coisa boa. Claro que as bombas marcam presença, afinal de contas temos Xuxa e o Mistério da Feiurinha, mas é raridade, ainda mais se a gente considerar algumas coisas do naipe de Os Vampiros que se Mordam e toda a leva de fora que vem, de baciada, e ficam semanas intermináveis em cartaz, especialmente cruel pra quem é professor de adolescentes e pré-monstros. Quem reclamar muito de Segurança Nacional deveria pensar por 5 segundos e fazer uma lista de filmes de ação notoriamente ruins que são "aclamados" pelo povão.

O negócio é que eu fico meio inconformado comigo mesmo e com muita gente não vai ao cinema ver filme nacional (eu mesmo vi quase todos em DVD ou no computador), mais ainda com quem nem mesmo vê os tupiniquins, seja como for. Mas essa barbada do Cine SESC não dá pra perder, pelo menos um filme dá pra ir ver - tem algumas coisas interessantes mesmo entre o Natal e o Ano Novo, com uma São Paulo já esvaziando. E um filme nacional e BOM!

Fica aí a dica. Quem precisar ou quiser de companhia... eu sou facinho, nunca escondi isso. Até pago a pipoca.

"I want something I want - something pretty."

[Karl has given Sarah a lift home after the Christmas party. They are standing on her doorstep]

Karl: Well, I-I'd better go.
Sarah: Okay.
Karl: Goodnight.
Sarah: Goodnight.

[he gives her a quick peck on the cheek, then they begin to kiss passionately]

Karl: Actually, I don't *have* to go.
Sarah: Right. Good.
Karl: I mean...
Sarah: No-no that's good. Just, um, would you excuse me for one second? Just...
Karl: Sure.

[she moves round the corner, out of sight of Karl, dances a little jig for joy, then returns]

Sarah: Um, okay, that's done. Um, why don't you come upstairs in about ten seconds.

* * *

ai ai
=D

"Comigo foi sempre assim, parceiro.", pt. II

Tá bom, essa semana eu tive uma conversa que me fez pensar um pouco mais sobre o Tropa de Elite 2, especialmente no que diz respeito a uma coisas que eu mesmo escrevi no outro post:

"Mas é também um filme muito mais pretenso, e simplifica a coisa como um todo, apesar de que talvez seja essa a melhor forma de mostrar o tamanho do problema que é a corrupção, e não só na Polícia."

Não foi sobre a Polícia que fiquei pensando, mas sobre ele ser um filme pretenso, e sobre o sistema, e sobre o Coronel Nascimento (acho que eu gostava mais de dizer "Capitão"). Talvez esteja aí, pra mim, a grande falha do filme.

A narração do Wagner Moura é muito boa, fato. Tanto que ele, no primeiro filme, mudou toda a edição e fez com que o seu Capitão Nascimento fosse o personagem principal (pois é, não era pra ser ele, e quem assiste à edição pirata percebe isso um pouco melhor, e daí é só ler o livro pra ver que não existe nenhuma menção a um certo Capitão Nascimento - hã hã? - lá), e não só pelo falatório. Mas parece que agora ele fala até demais, tem que explicar tudo, tin tin por tin tin, e... fica demais. Mas isso não fica estranho, se alguém fizer um pouco de análise de discurso no filme, passando do nível superficial.

É bem claro que o "sistema" é o grande vilão, que temos policiais corruptos, que se relacionam a políticos corruptos, exitem as tais milícias e daí temos toda a merda do filme e da vida real. Vemos tudo que acontece nas comunidades carentes, e vemos o alto escalão da política. Mas... e a classe média? No primeiro filme isso é muito fácil de ver, com a universidade, o tráfico de drogas e tal, é dedo apontado na cara do quem vê, mas e agora? Fica uma coisa meio abstrata até, não atinge diretemente àqueles que são, por vezes, os maiores culpados. Comunidade não elege, sozinha, político corrupto. Não é porque a gente não faz um gato em casa pra ter TVA que isso significa que não temos nossa culpa no cartório, até porque em teoria as classes mais favorecidas são justamente as cabeças pensantes do país, aquelas que deveriam tomar alguma atitude (Winston Smith, esqueça o papo de prole). Só que no filme isso fica implícito, "jogado" na tal cena de Brasília, com uma frase no mínimo suspeita: "E quem você acha que paga a conta, parceiro?" - ou algo assim.

Nunca duvidei da capacidade de pessoas serem idiotas, ainda mais quando se trata de uma coletividade. E vai ter, sim, gente que vai sair do cinema xingando político, pobre e milícia, sem fazer mea culpa, porque o filme não mostra isso, e nossa classe média é daquelas que gosta de informação pronta. Não vai ter cena de faculdade com gente bonita pra mostrar como a droga chega lá, e essa é a grana que financia o tráfico. Só tem cena de como comunidades estão no rolo, enquanto o resto da cidade dorme tranquila, como se desse pra separar tão bem o joio do trigo. Só que, indo um pouco mais a fundo, alguém tem que perceber que nós temos uma parcela de culpa bem grande.

É o caso de uma eleição de um Maluf da vida por quem tem empreteira e diz que ele é bom pra construção civil, pensando no próprio bolso. É o caso de quem não precisa de serviços públicos e vota no Tiririca por achar que a piada é boa. É quem compra DVD pirata na rua sem saber a origem dessa merda, não conseguindo se tocar que isso pode, sim, ser uma fonte de renda de traficante ou das tais milícias do filme. É quem não percebe que o desvio de dinheiro tira a verba de quem realmente precisa (sendo bem didático, vamos pensar: se há verba, e escolas são construídas e professores são mais bem pagos, será que vamos ter a mesma quantidade de crianças na rua, roubando?), e mantém um círculo vicioso que parece não ter fim no Brasil, e não só no Rio de Janeiro.

É foda, mas um filme tão bom quanto esse peca na hora de apontar o dedo, e não é fazendo uso da ótima narração do Nascimento o tempo todo que a coisa fica mais fácil. A situação é bem complicada, e mereceria alguns bons minutos a mais, com fala de menos, e mais imagem. O povo esquece o que ouve, mas não o que vê, e o filme não mostra a matemática que cabeças mais preguiçosas não conseguem fazer, e daí saem do cinema com raiva, xingando, mas indo tomar aqueles chopes depois e pagando pro policial que parar o carro na blitz da Lei Seca, porque isso não tem nada a ver, claro. O salto é da comunidade carente pra Brasília, não tem nada a ver com o resto do povo.

Scream Awards 2010



Quem que consegue ver um negócio desses e não botar o sorriso na cara, só de lembrar como De Volta Para o Futuro é legal? Michael J. Fox, em especial, obrigado por ter sido um Marty McFly tão... tão... legal!

(e, pra quem não sabe, isso esse vídeo é praticamente um remake do trailer original do filme, em 1985)

PS: o tal Scream Awards é um Oscar da vida com a idéia de premiar "the best in sci-fi, fantasy, comics & horror". Não me espanta que eu vi quase tudo que tá indicado aos prêmios.

"Comigo foi sempre assim, parceiro."

Acho difícil ter alguém no Brasil que ainda não tenha visto Tropa de Elite (2007), o filmaço do José Padilha, e não só de ação. É um filme do caralho, fato, além de muito bem feito e cruelmente próximo da realidade - é só ler o livro, Elite da Tropa, pra ver que aquilo ali não é tanta ficção assim, até porque foi escrito por um ex-oficial do BOPE (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro, pra que ainda não sabe). As cenas de ação são boas, o Wagner Moura dá um show como o Capitão Nascimento (se você ainda não leu os Capitão Nascimento Facts, leia logo), Milhem Cortaz e André Ramiro são muito bons... bom, eu fui ao cinema duas vezes, vi o DVD pirata (só depois do cinema) e hoje tenho aquela porcaria de DVD sem extras, mas original.

Claro, você vê o filme e fica com raiva de traficante e maconheiro, fica falando "Vai subir ninguém!" ou "O senhor é um fanfarrão!" ou "Senta o dedo nessa porra", e torcendo pelos policiais - veja bem, pela PM do Rio de Janeiro! Já pensou nisso? Mas não dá pra rir quando você vê um pobre coitado no saco, ou a ameaça de empalar um outro pobre coitado com um cabo de vassoura, como se fosse uma coisa pra se rir. Minha segunda vez no cinema foi meio revoltante por isso, porque parece que esse tipo de coisa agora virou piada, e o pessoal do cinema de shopping só dá risada porque, mesmo que insconscientemente, sabe que isso nunca vai acontecer em Higienópolis ou na Barra da Tijuca. É de revirar o estômago, tanto o fato quanto a reação das pessoas.

Daí que finalmente saiu Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro (2010), e dessa vez sem vazamento em camelô, sem pirataria. Talvez o filme mais aguardado no Brasil dos últimos anos, tamanho o impacto do primeiro, e também porque dá pra saber que vem coisa boa por aí: elenco, direção, roteiristas e tudo mantido, uma sequeência fiel. E lá vamos nós assistir ao filme na estréia, 23h45 (sim, eu moro em São Paulo), sala cheia mas sem molecada - ou seja, cheia mas em silêncio. E uma baita expectativa, porque já o trailer é bom (uma baita sensação de estar em casa ao ouvir a voz do Wagner Moura fazendo a narração, pareceiro)! Imagine o filme?

Pois é, e ele é bom. Muito bom, talvez até melhor que o primeiro, por ter acabado um pouco daquela coisa de bang-bang, de mocinhos de preto e bandidos de touquinha e farda azul ou cinza. É um filme bem mais sério, além de ter mais cenas de ação e terem caprichado ainda mais nos tiroteios. Seu Jorge lá, com aquela cara de cachaceiro dele, Sandro Rocha ("Quem quer rir, tem que fazer rir!") roubando a cena. Mas é também um filme muito mais pretenso, e simplifica a coisa como um todo, apesar de que talvez seja essa a melhor forma de mostrar o tamanho do problema que é a corrupção, e não só na Polícia. O tal "sistema" é o Grande Satã, o mal da terra brasilis, e é impressionante como tem gente que não se toca disso e ainda elege pessoas como o Governador do filme, ou os "excelentíssimos" deputados que o filme retrata tão bem. Claro, a coisa não é simples assim, mas não dá pra abraçar o mundo com as pernas.

Fica a sensação de não um soco, mas uma surra bem dada no fim do filme, especialmente pela breve cena de Brasília e pelo questionamento levantada na narração do agora Coronel Nascimento. É real demais, é uma ficção tão perto da realidade que até incomoda. Claro, vai ter gente que vai achar que é só um filme, sem conseguir ver como um surra num perueiro numa comunidade tem a ver com o resto da cidade, e é esse tipo de pessoa que provavelmente não pensa tão bem antes de votar ou coloca um Tiririca lá. Sad, but true.

Agora, fiquei pensando no final... se o filme tenta tanto ser assunto, levantar polêmica, por que não ter lançado antes das eleições para Governador e deputados, o foco dele?

"Why is it weird that I have girl friends?"

Peter Klaven: So what do I do? How do I make friends?
Robbie Klaven: If you see a cool looking guy, strike up a conversation and ask him on a man date.
Peter Klaven: Ok.
Robbie Klaven: You know what I mean?
Peter Klaven: No.
Robbie Klaven: Casual lunch or after work drinks. You're not taking these boys to see The Devil Wears Prada.
Peter Klaven: Ohhhh God, I love that movie. No, I won't.


* * *

Olá, eu sou Peter Klaven, muito prazer.

"No les perdono bajo ningún pretexto que no sepan volar"



- No me acuerdo de vos. Tengo tan mala memoria. ¿Quién eras? El marinero de Toronto Star, el de La Habana Maru, el astronauta enamorado de Benedetti, …No me acuerdo.

- Es importante hacerlo. Quiero que me relates tu último optimismo. Yo te ofrezco mi última confianza.

- La esperanza tan dulce, tan pulida, tan triste, la promesa tan leve no me sirve. Aunque sea un trueque mínimo, debemos cotejarnos. No me sirve tan mansa la esperanza, la rabia tan sumisa, tan débil, tan humilde. El furor tan prudente no me sirve. No me sirve tan sabia, tanta rabia.

- Estás sola, estoy solo; por algo somos prójimos. La soledad también puede ser una llama.

- No me quieras, por favor, no me quieras, no me quieras, no me quieras...

* * *

É difícil, até, fazer a transposição de uma linguagem para outra, até em cima do que eu postei aqui uns tempos atrás, sobre livros e filmes - e isso baseado em narrações e contos. Agora, como fazer a transposição de poesia para a tela, sem tornar a coisa muito piegas ou ridícula?

O hermano Eliseo Subiela, além do próprio Mario Benedetti, poeta e ator no filme (o senhor que recita poesia em alemão no bordel), fazem isso de forma sublime no enlatado argentino O Lado Escuro do Coração, de 1992, até mesmo com um quê de fantástico ou surreal. E o filme é de uma delicadeza dura, rude, que emociona, além dos diálogos embebidos de poesia, nas palavras de, bem, um poeta, como é o personagem Oliverio, que faz da poesia sua cantada, seu ganha bife, seu canto de dor. E a cena acima, que infelizmente eu não tenho em português, é fantástica, só tão boa quanto a cena de Ana com a filha passando pelo detector de metais enquanto Oliverio conversa com a morte, no bar, e descobre que a vida pode ser dura, mas ensina os caminhos certos.

O filme, é claro, vale também pelo conteúdo das conversas, e mesmo pelo enredo, relativamente simples - se você não achar nada de mais um cara se apaixonar por uma prostituta e as consequências disso. Teve um quê de tantos outros filmes de conversas e mais conversas sobre o que é o amor, sobre o que é apaixonar-se pela pessoa certa, pela pessoa errada, e mesmo sobre o que é e como apaixonar-se (a ótima conversa com a ex-mulher). Tudo numa linguagem ótima, e ainda assim concisa, bem colocada, por vezes acertadamente exagerada. Boa "surpresa" dos hermanos, mas uma vez, que tantos filmes bons fazem. E a gente aqui cheio de preconceitos bestas fomentados pela "imprensa marrom" do futebol, que parece não perceber o estrago que causa em outras áreas.

Muito bom, muito bom mesmo. E eu devo essa preciosidade à Clau, que tanto me falou do filme. Muchas gracias, cariño! :)

E agora, antes de dormir, vou bater um papo com Cecília, Carlos, Vinícius e Manoel.

* * *
Tá, ok, essa cena aqui é legendada, abre o filme e... bem, resume muito bem o que algumas pessoas pensamos.

"Me importa un pito que las mujeres tengan los senos como magnolias o como pasas de higo; un cutis de durazno o de papel de lija. Le doy una importancia igual a cero al hecho de que amanezcan con un aliento afrodisíaco o insecticida. Soy perfectamente capaz de soportarles una nariz que sacaría el primer premio en una exposición de zanahorias. Pero eso sí, y en esto soy irreductible, no les perdono bajo ningún pretexto que no sepan volar, si no saben volar pierden el tiempo conmigo". (Oliverio)

"I think positive emotion trumps negative emotion every time."

Quando eu vejo Robert Pattison, o Edward, me vem à cabeça que ele é um cara que fica fazendo cara de dor de barriga o filme toda, por causa, bem, das caras de dor de barriga que ele fica fazendo como o vampiro mais pop do mundo hoje em dia. E me pego pensando se ele vai ser sempre assim, se o cara vai ser pra sempre o Edward ou se vai alavancar e mostrar ao mundo pra que veio, como outro ator que já entrou de vez na minha listinha de favoritos: Leonardo DiCaprio. Sim, ele mesmo.

A primeira coisa que tive o "prazer" de ver com esse rostinho bonito em cena foi, infelizmente, Titanic (1997), e por duas vezes no cinema e nunca mais. Claro, na época, eu achei o máximo, gostei do filme, e até cheguei a discutir a entrada dele ou não na corrida para o Oscar e achei que a Kate Winslet não tinha graça (isso só viria a mudar anos depois, e hoje sou até meio apaixonadinho por ela). Veio O Homem da Máscara de Ferro (1998) e A Praia (2000), e de repente eu não conseguia mais olhar pra cara dele, que tinha virado um rostinho bonito que não fazia nada que prestava e ainda tinha que aturar a cara dele em bancas de jornais, capas de fichário e atrás da porta do guarda-roupa das irmãs dos amigos. Peguei birrinha, pronto. E fiquei muito tempo sem assistir a nada que fosse dele.

Comecei a trabalhar numa escola depois da Disney e tinha uma bendita aula de vídeo em cima de Prenda-me Se For Capaz (2002), que eu sempre ignorei, apesar de todas as críticas, recomendações e, bem, Tom Hanks. Daí veio Os Infiltrados (2006), novos elogios e prêmios, e um dia resolvi assistir a Diamante de Sangue (2006). Lembro muito bem de, no fim do filme, virar pra Bell e dizer "E não é que o Leonardo DiCaprio tá virando ator?", surpreso pela atuação dele, pelo bom filme que ele tinha feito. Mal sabia eu que ia vê-lo em cena com Jack Nicholson dali mais um tempo e soltar um "É, o cara virou ator mesmo".

E sabe quando, daí, parece que tudo começa a acontecer? Apesar de dar a aula, nunca tinha visto Prenda-me. Peguei empretado na escola e vi um dos filmes mais bacanas sobre malandros até hoje, tanto que tenho o DVD. Resolvi ir lá atrás, e vi Diário de um Adolescente (1995), seu primeiro grande filme, e fiquei de cara com ele, tão novo, tão bom. Ainda outro dia, veio Rede de Mentiras (2008), mais um bom filme que os americanos fazem para exorcisar os próprios demônios da Guerra ao Terror, cujo ápice esteve no Oscar esse ano. Com a farra da Blockbuster, o ótimo Foi Apenas Um Sonho (2008) que, por sinal, tem algumas das melhores cenas cortadas, só disponíveis dos extras, e alguns meses atrás o também ótimo e scorcesiano Ilha do Medo (2009), numa sessão de cinema com ameaças graves às meninas lésbicas de 14 anos do meu lado.

Não é que ele sempre foi bom? Fez uns filmes toscos, é verdade, mas quem não fez na carreira? É que nem mulher... todo cara que desfila por aí com mulher bonita já deu sua barangada, fato. E ele poderia ter virado um Ben Affleck, que se deu bem com Gênio Indomável (1997), mas que se mostrava um canastrão, continuou canastrão e, fazer o quê?, vai ser canastrão pra sempre, com o rostinho bonito também. Nem todos os atores que tem isso do rostinho conseguem, infelizemente, fazer o que um Brad Pitt ou um - agora admito, com prazer - DiCaprio conseguiram. E mais do que atuarem bem, eles sabem escolher muito bem os papéis, os filmes, o que fazer e o que não fazer. E no caso do Leo, como diz uma amiga, sem perder a carinha de menino (ainda acho estranho vê-lo fumando, por exemplo).

Daí domingo eu fui ver A Origem (2010), o tal #3 do IMDb. Sensacional, fantástico, ótimo! Mesmo! E, além de uma direção bem conduzida, de bom elenco, efeitos especiais fantásticos (a briga sem gravidade no corredor do hotel faria qualquer Neo vs. Agente Smith ficar com invejinha), tem um Leonardo DiCaprio fazendo um Cobb inspiradíssimo, no limite, contribuindo em cada cena pro final "Ahn?" que deixa a gente na dúvida. Quando o cara consegue isso, é porque ele é bom, e não porque tem um rostinho bonito e de bom moço. Ele me faz ir atrás do filme, e já pensei na listinha que preciso dar cabo agora: As Filhas de Marvin (1996), O Aviador (2004) e Romeo + Julieta (1996), enquanto não sai mais nada novo do Kevin Spacey ou da Maryl Streep.

"This city is afraid of me. I've seen its true face."

Dizer que "ah, o livro é bem melhor, né?" parece ser uma máxima de cinema, seja quem for, falando de qualquer que seja o filme. Exemplos não faltam, daria pra fazer uma lista de 250 só com as adaptações mais fracassadas ou toscas mesmo. Tudo bem, tem umas que chegam a dar raiva mesmo, especialmente quando você gosta do livro, mas a gente não pára pra pensar que trabalho ingrato é esse, pior que ficar descascando pinhão com dedo e sem faca. 

Mas de vez em quando temos gratas surpresas, ou até mais gratas, quando o filme consegue ser melhor do que o próprio livro. Até tenho um exemplo pessoal para isso, que seria O Jardineiro Fiel (2005), do nosso Fernando Meirelles e com os ótimos Ralph Fiennes e Rachel Weisz, baseado na obra de John le Carré. O livro é bom, claro, super interessante, ritmo bom, apesar do tamanho, como os bons livros de espionagem e afins do le Carré, mas o filme... é fantástico. A históra é muito fiel, muito mesmo, mas eu diria que há duas coisas que fazem toda a diferença. A montagem do filme, começando pelo carro, que volta e meia reaparece, cada vez mais completo, e a cena do teatro de bonecos discutindo doenças na África. A outra seria Filhos da Esperança (2006), com Clive Owen. Sempre fui fã de ficção, e o filme é super interessante, mas uma colega de trabalho disse que o livro chega a ser chatíssimo. Ah, sim, e acabei de pensar em Ele Não Está Tão a Fim de Você (2009), porque o livro me irritou horrores, mas do filme eu gostei, até porque as coisas ali são colocadas por um personagem, e você não sente aquele tom de "eu tenho a razão" do mané do livro.

E ao invés de fazer um contraponto dizendo que só tem porcaria, e as boas adaptações são a exceção, hoje eu vi como é complicado fazer isso, mais uma vez. Nos filmes, convenhamos que os diretores têm lá uma certa limitação de 2 horas para get the job done, até porque mesmo gente que gosta de cinema torce o nariz quando vê coisas do tipo 162 minutos - e não completamente sem razão, às vezes. Esse é o tempo marcado em Watchmen (2009), que eu terminei de ler hoje e vi hoje mesmo. Só que aqui não se trata de um livro, mas sim de uma graphic novel, ou seja, um livro em quadrinhos. Não, não é só um gibi que nem da Turma da Mônica, mas praticamente um livro mesmo, um romance, e incrível, bom pra caralho mesmo. E denso, complexo. E o filme é muito bom também, mas chega a ser injusta a comparação... convenhamos, são 12 edições para a revista, mais de 350 páginas, e como passar tudo pra tela? Fica meio óbvio que o filme não vai ser tão bom quanto, mas isso não faz dele um filme ruim, muito pelo contrário. Ele tem um grande mérito de ter tentado e ter conseguido tão bem, dentro do possível. É uma coisa comum, aliás, nesse tipo de revista, a exemplo de Sin City (2005), que é bom demais, e é fidelíssimo aos quadrinhos, mesmo em termos de imagem.

Claro, existem certas técnicas e clichês de cinema que atrapalham, como certas cenas... o Dr. Manhattan nunca entrega de bandeja a verdade sobre o pai de Laurie, como ele faz no filme, e algumas cenas são meio mastigadas pro povo, e poderiam ser bem mais fiéis à revista, mas eu só sei disso porque li. Quem nunca leu, nem vai saber, e vai gostar do filme, a menos que seja um típico espectador do água com açúcar de sempre que tanto me irrita se não for em doses homeopáticas. O Caçador de Pipas (2007) caiu tanto nesses clichês que ficou... bem, uma bomba. Horrível, ruim mesmo, e o livro tão bom. Tiraram tudo que tinha de tão forte no livro pra fazer ele ficar digerível e com um happy ending que estraga tudo, tudo mesmo. Já 1984 (1984 - ahá!) é bastante fiel, e talvez peque por isso mesmo, e por ter um narrador tão forte.

Essa parte do narrador, por sinal, é um dos grandes desafios. Como transpor uma voz que te conta tanto num livro, tão natural lá, para uma linguagem visual como a do cinema? Todo mundo que critica deveria se perguntar "Eu consigo assistir a um filme com voz narrativa?". A resposta é fácil: não. Uma boa tentativa disso foi, por exemplo, Blade Runner (1982), cujas versões finais sempre tiraram a voz do Harrison Ford narrando a história. Foco narrativo é importante por demais, e nesse ponto é que Watchmen apela, porque são diversos focos (como o jornaleiro, por exemplo, ou todas as reflexões do Dr. Manhattan, ou mesmo o pequeno jornal que recebe e ignora o diário de Rorschach, que o filme deixa como um "Oh, será?" idiota no final).

E, pra não ficar nas revistas em quadrinhos, nada mais justo que falar de Ensaio Sobre a Cegueira (2008), também do Meirelles, baseado no fantástico e fodástico livro do falecido José Saramago, portuga. O filme é bom, bem realizado (os móveis que parecem à medida que se tromba neles foi um recurso interessantíssimo, mas aposto que pouca gente percebeu), mas o livro... ah, o livro. Eu esperava um filme com cheiro, angustiante, medonho, não sei. Me ficou que, mesmo com todo o esforço, as boas atuações, o Saramago chorando ao final da exibição pra ele, mesmo com tudo isso, o filme ficou devendo, e não tinha como não ser assim. De novo, isso faz do filme um filme ruim? Não, não faz. Vale a pena assistir? Muito, sempre, até porque é um prazer ver na tela o que você só conseguia imaginar.

O caminho contrário, que não é o meu favorito, de ver o filme e depois ler, vale a pena também, como foi Eu Sou a Lenda (2007), que também é bem mais legal do que o conto que dá nome ao livro, especialmente pela Manhattan criada na telona. Mas daí porque ficou mais filme de ação com ficção, a montagem dos flashbacks bem realizada e oportuna (100% linearidade de cu é rola) e tem o carisma do Will Smith, além de que o conto é meio antigo, e certas coisas tinham que ser "corrigidas", e o fizeram na mosca. Seria muito bom se as pessoas fossem ler os livros depois de ver os filmes, e quem sabe eventualmente começariam a ler pra ver o filme, mas nem isso.

Alguns autores, por outro lado, sempre fazem livros mastigadinhos para serem transformados em filmes, como é o caso de Dan "Da Vinci" Brown, ou mesmo dos livros do Nicholas Sparks (The Notebook, A Walk to Remember e tantos outros livros que vêm - ou deveriam - acompanhados de caixas de lenços), mas daí não tem nem graça, é mais fácil ler o roteiro, porque mal tem o que comparar, e desde 1995 eu gosto desses tais estudos comparativos, por causa do Kevin Costner e do seu Robin Hood (1991), nas minhas aulas de português. O primeiro VHS que aluguei na vida, com meus pais, e foi tão legal, apesar das discrepâncias gritantes do livro com o filme, muito mais bonitinho e enlatado, embalado por Bryan Adams. 

Hoje, eu faço os tais estudos por minha conta, e fico até chato falando pra quem não leu de todas as diferenças, mas ainda vou criar coragem e fazer isso com O Senhor dos Anéis, a saga, e depois matar alguém de tédio, porque haja saco pra tanta página e tantas horas e todos os comentários que isso vai me render. Alguém me aguarde, com muito café.

Ah, Penelope Cruz...



Depois a gente fica apaixonado por você (mesmo não sendo você quem realmente canta, mas todo o "resto" de Volver me fazer pensar assim, e todos os outros filmes, e Vicky Cristina Barcelona), e você vai lá e se casa com o Javier Bardem. Assim não dá.

"Alguém tem que saber fazer esse mingau."

Nesses últimos tempos, andei conversando muito sobre cinema nacional, e semana passada isso tomou proporções “internacionais”, porque deu pra ver que esse preconceito que as pessoas têm contra o santo de casa que não faz milagre não se restringe ao Brasil, mas também ao Chile, à Colômbia e talvez até à França. Afinal de contas, a grama do vizinho é sempre mais verde, especialmente quando essa grama tem um verde californiano. O argumento é quase sempre o mesmo: o filme mostra uma realidade tão “de casa” que não tem graça, é filme violento, é filme ruim. Mas principalmente essa coisa da realidade, de ser uma coisa cotidiana e, por isso mesmo, sem graça – afinal de contas, pra que ver a “nossa realidade” sofrida, não é mesmo? Muita hora nessa calma, camarada.

Daí que eu começo a minha defesa ao cinema brasileiro, ao cinema portenho (ou argentino, se for mais fácil), e começo a buscar mais “produtos” tanto brasileiros quanto latino-americanos, e tenho tido gratíssimas surpresas, como diria certo agregado machadiano. E a última dela foi o brasileiro Tempos de Paz, de 2009. Um filme com dois atores consagrados (os ótimos Tony Ramos, ex-Juca, eternamente peludo, e Dan Stulbach, exímio tenista da Helena Ranaldi e corinthiano, graças a Deus) que, muita gente não sabe, já tinham levado a peça ao teatro pra depois fazer o filme, sendo que isso é incrivelmente raro. Não de se ter uma peça transformada em filme, mas tê-lo com os mesmos atores, e acho que não é segredo pra ninguém que muitas vezes atores geniais no palco são péssimos com as câmeras e vice-versa.

Bom, daí que é um filme de época, 18 de abril de 1945. Isso é bom sinal, vai agradar a quem curtiu Terra Nostra e porcarias globais similares. E daí que é justamente um filme que se passa em algumas horas, num ambiente só, praticamente, e é um filme até parado, porque o cerne dele está num diálogo. Simples assim, e até absurdo, porque alguém vai dizer “Ah, vá... era só liberar o cara, pra que tudo isso?”. Pois é, pra quê? Pra mostrar justamente o papel da arte. É um filme sobre a brutalidade em duas culturas diferentes, que só podem se aproximar porque duas pessoas vítimas e produtos dessa brutalidade, dessa solidão, se aproximam, se abrem e, especialmente Segismundo (Ramos), sem nem mesmo entender, se rende ao poder da arte de transformar, de emocionar (“E o pior é que eu não entendi nada que o sujeito disse!”). No caso aqui, essa arte é claramente o teatro, tão relegado por tanta gente, tido como “chato” ou coisa de gente metida, mas aqui o meio pelo qual as duas culturas, os dois passados de violência e brutalidade são aproximados a ponto de se criar afetividade, de maravilhar, de fazer cumprir seu papel. Teatro que, desde o gregos, é a representação da vida mais simples e de mais fácil acesso, de mais fácil entendimento, e ainda assim uma das formas de arte mais difíceis para os atores, que têm que mostrar que aquilo ali não é simplesmente uma abstração da realidade, mas uma mímesis desta, sem os recursos cinematográficos, repetições e retoques. O making of do filme mostra que Daniel Filho, o diretor, tem essa preocupação.

Nesse ponto, Tony Ramos dá uma aula de atuação, da bruta truculência à expressão de uma criança que descobre algo novo, algo que ele não sabia que estava lá, apesar do que diz no começo do filme sobre teatro e a Europa (afinal, era uma peça de um autor espanhol que se passa na Polônia, e isso o toca muito mais que uma mulher brasileira que emite promissórias pelo rádio). Mérito também a Dan Stulbach, que consegue colocar tamanha emoção num personagem, e fazer teatro dentro de um filme (ou, no caso, teatro dentro do teatro). Sua menção ao grande Carlos Drummond de Andrade (no começo do filme ele recita “Mãos Dadas”, de O Sentimento do Mundo – se você não conhece ainda, discretamente abra o Google, dê um sorriso amarelo ou faça cara de paisagem, leia e finja que já sabia depois) não é de graça, especialmente com seu questionamento interno sobre a possibilidade de haver teatro (arte) depois dos horrores que o mundo viu com a II Guerra, e daí sua vontade de ser agricultor, de construir algo concreto, que dá frutos visíveis e é alheio à nossa barbárie uns aos outros. Mas isso é algo um tanto quanto impossível, como se vê com o desenrolar do filme, e sua genial representação em plena sala de imigração. Além disso, o modo como Clausewitz (Stulbach) se mostra decepcionado com a língua portuguesa deveria ser um ótimo exemplo de toda a carga que uma língua traz consigo mesma, apesar de que tem gente que diz que é tudo “só” língua, e que falar uma ou outra dá no mesmo. Ledo engano da alma e da cabeça.

Agora, se mesmo assim ainda não deu pra pegar o espírito da coisa, eu vou citar um trecho do filme. Sim, é um pouco spoiler, mas deveria ser desses que faz a gente querer ver o filme. A ver:

Eu não sei para que serve teatro no mundo depois desta guerra. Só sei que eu tenho que continuar a fazer o que eu sei fazer. Um dia alguém vai saber para que serve, não? Se serve. Para mim, me basta fazer. Fazer teatro.

E é isso que a arte faz. Ela simplesmente faz, sem ter obrigação ou finalidade nenhuma, porque isso é papel do observador, que vai entender com a sua própria linguagem, do jeito que lhe convir e, espera-se, se emocionar com aquilo.

"We're superheroes! You love us!"

Kick Ass é, antes de qualquer coisa, é um filme bastante violento, ao contrário do que alguma idéia que os posters (muito bons, por sinal, especialmente os dos EUA), uma olhada inicial e Chloe Moretz (a irmã de 12 do Tom de (500) Dias Com Ela)  podem dar. É sangue, bastante, e até mesmo um pouco perturbador para algumas pessoas, se ligar menininhas a balas na cabeça revira o estômago de alguém. É um filme de ação, com uma trilha sonora bacana

E, ainda assim, é legal pra caralho! Especialmente pra qualquer geek que gosta de quadrinhos, até porque o filme vem de quadrinhos (por Mark Millar e John Romita Jr.), e é absurdamente recheado de referências, além das mais óbvias, como o Homem-Aranha, X-Men e o Quarteto Fantástico. Dois exemplos:

Kick-Ass: "With no power comes no responsibility." - uma "piada" em cima da fala-lema do Homem-Aranha.

Red Mist: "Wait 'til they get a load of me!" - o Coringa de Jack Nicholson fala isso no Batman, de 1989.

As cenas de ação são bem feitas (uma delas lembra absurdamente Matrix, e Neo correndo e disparando), o elenco bem escolhido, os uniformes bacanas, a sequência em quadrinhos pra explicar a história de Big Daddy dentro do filme... é como que ver um personagem de uma história em quadrinhos lendo um gibi, ou personagens vendo um filme que tem relevância dentro de um filme. Eu fico louco com essas coisas, fica legal demais! Até mesmo o sangue nos tiroteios é claramente feito em computador, mas eu posso estar louco, mas tem um certo efeito de desenho no sangue, não aquele cenográfico patife que não convence ninguém. E alguns diálogos são engraçados demais, como o em que o cara é torturado e a discussão toda é em cima do Batman ou não.

Claro que é provável que mais garotos se interessem pelo filme do que meninas, até pela coisa de ação + super-heróis (é... "super-heróis"), mas é um filme já feito pra uma geração mais pop do que testosterona.  O YouTube deitando e rolando, até pra dar o começo real da história. A trilha sonora é boa pacas, moderna (Mika) e ao mesmo tempo não (Ennio Morricone, afinal de contas, quem mais daria o tom de western pra um filme tão bem?). Christopher Mintz-Plasse puxa Superbad (um... clássico?) e McLovin' pela memória, e não dá pra não gostar desse moleque. Não vale a pena perder por preconceito, a menos que ver gente sendo morta (pelo olhos de um ursinho de pelúcia, que ironia fantástica!).

E é um alento pra qualquer geek. A discussão que os garotos têm no começo (dentro de uma loja de quadrinhos muito maneira, com um Homem-Aranha em tamanho real, diga-se de passagem) sobre o que aconteceria na "vida real", ou mesmo quando Dave/Kick Ass pensa em Peter Parker/Homem-Aranha e meninas... bom, fica até curioso. Ele consegue a menina, Kate (que solta algo incrível como "If I had the chance, I'd fuck his brains out" só pra gente ficar bobo e com inveja da cena seguinte), e daí você se pergunta "Se ele consegue, será que eu na vida real consigo?", apesar do plano de amigo gay ser um pouco demais. Acho que a gente consegue, no fim das contas. Geeks e nerds têm lá seu charme, e isso vale pra ambos os sexos.

Não deu pra não pensar numa frase também no começo... duas, na verdade.

Dave Lizewski: Jesus, guys, doesn't it bug you? Like thousand of people wanna be Paris Hilton and nobody wants to be Spider-Man. 

Kick Ass: The three assholes, laying into one guy while everybody else watches? And you wanna know what's wrong with me?

É curioso, mas é assim mesmo, não? Principalmente a molecada de hoje em dia, só se espelha e admira quem não presta. Paris Hilton é role model, mas os super-heróis não. Mesmo o coitado do Capitão América teve que morrer, porque... bem, o mundo não tinha mais lugar pra ele, e não só o da Marvel. Precisávamos de um cara mais flexível e que tem ideais menos 40's, mais modernos. E isso de a gente só ficar olhando... sad but true. Me lembrou a vez que eu vi um menino sendo assaltado na Santa Cecília, e fiquei lá, olhando, tentando criar coragem pra fazer algo, enquanto todo mundo fazia de conta que nem via, passava reto, bem como o cara da janela que acaba morto - curioso, porque justamente ele que não faz nada acaba assim, sendo que na vida real geralmente é o contrário. 

Será que falta um pouco de Kick Ass em mim? Ou eu fiz foi bem, e assim caminha a humanidade, com super-heróis com poderes nos quadrinhos e os sem poderes também nos quadrinhos, e a gente só consegue fantasiar sobre algo assim?

"Really? Well, then I guess I'm in big trouble."

A idéia era um top 5 de filmes mais ou menos "aun" que não são, na realidade, tão "aun" assim... Mas alguns acabam sendo. Anyway, as meninas entendem o termo, e os rapazes deveriam entender.

E dia 12 de junho é aquele que vem depois do dia 11 e antes do dia 13, mas vale a lembrança.

Não adianta, acho que esse acabou por ser meu all-time favourite para filmes cujo tema principal é amor e afins. E não é só por causa da Zoey Deschanel. (L)

Já foi um certo filme da minha vida, e dá pra gostar até da atuação mais ou menos séria do Ashton Kutcher, que chama mais a atenção do que a Amanda Peet, sem graça.

Mesmo vendo o filme em português, não deu pra não ter aquele quê de "que graça de filme, gente!", por mais gay que isso soe. Especialmente numa cena sem diálogo algum.

O mais recente da lista, mas é irresistível, com toda a estranheza dele. Além de tudo, o Patrick Fugit (o ótimo William Miller do fantástico Quase Famosos) dá um sentimento bom de familiaridade, ao mesmo tempo que não).

Realmente, o filme mais gostoso e legal de se ver com Adam Sandler, no melhor papel dele, como Robbie pra mim. Sem contar que a Drew Barrymore está beeeeeeeeem melhor aqui do que no Como Se Fosse a Primeira Vez, que tenta repetir esse filme, sem as músicas e a trilha sonora dupla, além de faltar o Billy Idol.

"And this trip is a hard swallow of my pride"

Alvin: I'd give each one of 'em a stick and, one for each one of 'em, then I'd say, 'You break that.' Course they could real easy. Then I'd say, 'Tie them sticks in a bundle and try to break that.' Course they couldn't. Then I'd say, "That bundle... that's family."

* * *
Alvin Straight: You don't think about getting old when you're young... you shouldn't.
Cyclist #1: Must be something good about gettin' old?
Alvin Straight: Well I can't imagine anything good about being blind and lame at the same time but, still at my age I've seen about all that life has to dish out. I know to separate the wheat from the chaff, and let the small stuff fall away.
Cyclist #2: So, uh, what's the worst part about being old, Alvin?
Alvin Straight: Well, the worst part of being old is rememberin' when you was young.

* * * 
Alvin Straight: Anger, vanity, you mix that together with liquor, you've got two brothers that haven't spoken in ten years. Ah, whatever it was that made me and Lyle so mad... don't matter anymore. I want to make peace, I want to sit with him, look up at the stars... like we used to do, so long ago.

* * *
[last lines]
Lyle Straight, Alvin's Brother: Did you ride that thing all the way out here to see me?
Alvin Straight: I did, Lyle.

* * *

De vez em quando é sempre bom a gente ser lembrado que o caminho muitas vezes é mais importante do que o destino, seja o que for que nos aguarda lá na frente. E melhor ainda quando temos uma história tão simples e tão comovente pra mostrar isso, com um velhinho tão fofo e simpático, sempre disposto a compartilhar um pouco da bagagem que eles têm com estranhos.

Daí você se lembra que o mesmo David Lynch que faz maluquices como Cidade dos Sonhos consegue fazer uma pérola como esse História Real (The Straight Story).

"Fuck it, Dude, let's go bowling."

Depois de tanto, taaaaaaaaaaanto tempo e tanto enrolar, O Grande Lebowsky entrou na minha vida. Quer dizer, "Dude" Lebowsky entrou, com todo o seu jeito... dude de ser e ver a vida. E o mais incrível é como esse foi um filme que veio carregadíssimo de expectativas e, felizmente, atingiu e se não as superou. E Jeff Bridges é foda, mesmo sem ter visto Crazy Heart ainda.

Não é só por ter morado nos EUA e ter visto, claramente, em diversas cenas uma grande e fina ironia pelo apelido "Dude, que é tantas vezes repetido no filme e na vida real, como todo mundo se chama por lá, do mais pobre ao mais rico. Pode ser qualquer um, e pra mim é daí que vem a grande sacada do nome do sujeito, especialmente pelo estilo de vida que ele leva. Parece que, curiosamente, o filme tem um certo status de cult nos EUA muito maior do que aqui, a ponto de pessoas se reunirem em convenções à Star Wars pra falar sobre o filme e, bem, o estilo "dudiano" de viver. Pra que mesmo, se o Dude é uma bela representação do white American trash, colocado numa roupagem meio Raymond Chandler? Assim, eu quero dizer que lá tem gente demaaaaaaaais da conta que é simplesmente um Dude mas nem sabe, e aqui também, e ele é um ponto de exagero cômico, mas estranhamente perto da realidade pra algumas pessoas, nem que seja aquela que elas repudiam ("The bums will always lose!") ainda que admirem quando é o Jeff Bridges.

E o John Goodman, como o Walter? Fantástico, com o trauma que os americanos (espcialmente os veteranos, os armamentistas até falar chega) têm com o Vietnã mesmo em coisas que não tem nada a ver! Steve Buscemi sempre ótimo, ainda mais quando tão perdido nas conversas e com um fim tão "do nada" que dá o toque de surrealidade para os diálogos que, na real, não têm nada com nada. ("What the fuck are you talking about?") Julianne Moore que o diga, mas ainda não sei se fiquei meio que com repulsa pelo papel dela ou meio que apaixonado. São tantas caricaturas no filme (os alemães niilistas paródias do Kraftwerk e o inglês deles, além do sempre ótimo John Turturro como Jesus, são espetaculares!) que fica difícil dizer qual delas é a melhor. Nesse sentido, até me lembrei um pouco de Napoleon Dynamite, pelo humor que não é tão... óbvio, mas pela coisa caricatural, humor um pouco mais sutil, especialmente mirado nos americanos. Seria mais ou menos como ficar fazendo piada com a classe média brasileira, como o saudoso Caco Antibes falando de pobre ele sendo um, mas sem as risadas de fundo, e sem a cara e o momento pastelões.

Claro, O Grande Lebowsky é (mais) uma obra-prima dos irmãos Coen, e de longe melhor que o coitado do Napoleon (apesar do incrível "Gosh, frigging idiot!"), mas é filme pra ser visto mais de uma vez. Pra se ter em casa, e assistir, quem sabe, tendo uma ocasional viagem de ácido. Quem sabe assim o estilo de vida "dudista" bate, nem que seja por alguns minutos, ou horas.

"It's the answer to your nightmares."

Foram preciso três tentativas pra conseguir ver Alma Perdida (Cold Souls), um filme que aparentemente passou na Mostra de Cinema do ano passado, e eu não fui ver, como de praxe. Eu apaguei em duas delas, e hoje terminei - e não, o filme não é nada chato, eu que tava morto de sono nas duas vezes mesmo e fui ver na cama.

Paul Giamatti é um baita ator, (in)felizmente meio esquecido por grande filmes (a não ser pelo péssimo Mandando Bala, mas quem não faria um filme ruim pra estar perto da Monica Bellucci?), e a idéia do filme é bastante interessante, me fazendo pensar de cara que era uma coisa mais séria, meio... Charlie Kaufman. Virou meio que ligar batido eu falar de Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, pelo tanto que eu gosto do filme, mas é meio impossível não ver um quê de proximidade ali, a começar pela idéia de extrair aquilo que está dentro de você e te traz dor. Aqui, sua própria alma; lá, suas lembranas, sua memória. Mas tem também uma coisa meio cômica na situação como um todo, o tráfico de almas, os aluguéis e as próprias falas.

Imagina alguém chegar pra você e perguntar "O que diabos a minha alma está fazendo na Rússia?", na maior calma, ou mesmo dizer "Eu estou desalmado, mas serão só por duas semanas". Acho que consegue ser mais inacreditável do que o próprio processo que o filme mostra, a extração da alma. Ou até do que ir apagando memórias, uma por uma, e rever uma casa na praia sendo despedaçada, pouco a pouco. Só que o que Brilho Eterno tem de interessante e triste, Alma Perdida tem de interessante e cômico, talvez - e olha aí uma grande ironia - porque a gente fique mais emocionado ao ver um amor se acabar do que ao ver a pessoa se despedaçar por dentro, perder a sua essência. Se é amor, é bonito, seja de quem for (especialmente o dos outros, aliás); se é do interno dos outros, problema deles.

Agora, é curioso como esses temas são tão fascinantes, não? E como deve ter gente que saiu do cinema (ou da cama, como eu) pensando em como seria bom se alguma coisa assim existisse, tanto de um filme quanto do outro. Se a gente conseguisse lidar com traumas apagando-os e levando a vida como se não tivessem existido, ou tirando a alma que nos pesa, pra depois pegar de volta, ou nem pegar. Soluções deus ex machina, que mostram como a gente não sabe lidar com nossos problemas mais complexos, e ainda assim tão interessantes. Me fica uma mini-sensação de que a gente tinha mais é que acabar um filme desses e começar a pensar em como podemos realmente lidar com essas coisas, mas é irresistível ficar pensando "Nossa, imagina se eu pudesse fazer isso?" e fantasiar quem a gente ia apagar, ou que alma ia querer no lugar da nossa, mais leve, mais fácil.

Eu me incluo, pelo menos no lugar do Jim Carrey.

Mega Piranha Trailer (Official)

Se alguém consegue pensar em coisa pior do que isso, me diga. Eu ainda tô pra ver... nem aquela cena de ação que eu postei outro dia aqui deve ser tão ruim, tão mal feito. É humanamente impossível!

"I'm drowning, Tommy."

Não sei se isso é defeito, ou mesmo uma coisa chata, mas sempre que eu vou ver um filme, eu quero saber do elenco, porque é sempre melhor ver um Gary Oldman, uma Susan Sarandom ou um Jean Reno na tela do que ver alguma coisa com a Sarah Jessica Parker (a menos que seja um episódio de South Park) ou com o Channing Tatum, ou qualquer outro "moderno", desses atores que fazem filmes ruins mas são bonitinhos. Poucas, acredito, são as exceções: aqueles caras que são ruins e ficam bons, ou mesmo saem dos seus papéis eternos. Caso esse seria Christopher Reeve, o Super-Homem, ou mais recentemente Tobey Maguire, o espetacular Homem-Aranha. Ou pelo menos era. 

Ao ver Entre Irmãos, filme do ano passado que só esse acho chegou aqui, eu não conseguia ver mais o Homem-Aranha, mas um personagem compltamente diferente, chamado Sam Cahill. Claro, eu não estou dizendo que Tobey é tão inossosso quanto metade desses atores de filmes blé, como os tantos filmes de terror com galãs e mocinhas gostosas que morrem, mas ele é o Homem-Aranha, pô. Alguém consegue ver o Daniel Radcliffe e pensar em outro personagem que não o Harry Potter, ou o mais recente galã Robert Pattinson, que está a caminho de ser Edward pra sempre, ainda que fedido? Acho que é mais ou menos o caso da Gabriela Duarte no Brasil, que está quase cristalizada como heroína de novela das 8, ou o José Mayer, comedor. Sai personagem, entra personagem, a gente ainda vê o que marcou. Harrison Ford deu sorte, porque não dá pra ser Indiana Jones e Han Solo ao mesmo tempo, então ele pode ser o Harrison Ford.

Mas, voltando ao filme, Entre Irmãos, como me disseram antes, é o filme do Tobey Maguire, e olha que a Natalie  (L) Portman tá lá com ele, e o Jake "Cowboy Viado" Gyllehaal também, num papel muito bom, mas ainda... dele. Mas o Tobey... nem dá pra lembrar que ele foi/é o Homem-Aranha, ou mesmo um jóquei ou cria de um orfanato do Michael Cane. Não consegui fazer uma coisa que eu sempre faço, de ficar imaginando como seria se outro personagem estivesse no lugar dele no filme, como foi com o Hugo Weaving (o Agente Smith de Matrix, que eu ficava imaginnando como tal em O Senhor dos Anéis, em vez daquele elfo mané do primeiro filme que quebra tudo no último). Sam Cahill é um personagem tão bem construído e interpretado que não tem nada de outros personagens, não tem confusão (quer dizer, na cabeça dele tem). E mérito de Tobey Maguire, especialmente.

Além disso, esse filme é do tipo que me faz ter um quê de "nhé", porque... bom, porque eu sou filho único. É comovente (e daí são pontos não só pro Maguire, mas pro Gyllehall também) ver como podem ser irmãos uns com os outros, sem cair naquela merda piegas de sempre, sendo que o filme tem várias chances para isso. Ele se sustenta graças ao elenco (sempre gostei muito do Sam Shepard, o pai dos rapazes) e a uma edição bem boa, as passagens entre EUA e Afeganistão acontecem nas horas certas, e não ficam se arrastando. A fala do título é tão bem colocada, numa cena tensa e bonita, e eu vejo ela como o ponto alto tanto da relação dos irmãos quanto da relação dos três protagonistas, e foi quando me veio aquela coisa de ser filho único.

Mas, viajadas pessoais à parte, eu fiquei com uma coisa engraçada, pelo menos com relação ao Tobey Maguire: será que quando eu ver o próximo Homem-Aranha (espero que logo), eu vou querer ver as caras de louco de Sam Cahill em vez de ficar imaginando Peter Parker preso no Afeganistão? Isso é uma mudança e tanto, ainda mais por lembrar como eu saí do cinema quando vi o segundo filme do aracnídeo.

"What do you think is supposed to happen in the woods?"

Depois de tanto tempo esperando e confabulando, criando coragem, vi o tal Anticristo, de Lars Von Trier. Filme de terror? Dogma95? Exorcismo de demônios pessoais? Mão errada? Obra prima?

Não sei, mesmo. Não sei se volto a ver o filme, pelo menos não tão cedo, e definitivamente de estômago vazio. Um belo filme, sem regras nem rótulos, chocante. Mas que é preciso ter estômago, paciênca e uma certa dose de preparação pra ser visto. E depois dele, eu me pergunto: a câmera precisa chegar tão perto mesmo?

"You should go to life rehab or something like that."


Maya Hayes: You're right, it is complicated, isn't it? I mean, you're in love with April, who used to be in love with Lucas, and then she fell in love with you, but you were in love with Summer, who was always really in love with Hampton, and now that you're in love with April she's in love with Kevin... and no one's in love with you. That's complicated.
Will Hayes: Yep.

"We threw away things people kill each other now."

Nomeando alguns: Mad Max (1979), O Exterminador do Futuro (1984), Akira (1988), Os 12 Macacos (1995), Eu Sou A Lenda (2007), A Estrada (2009) e, finalmente, O Livro de Eli (2010), que eu fui ver semana passada. Todos filmes com alguma coisa em comum: cenários mais ou menos apocalípticos, em que até o horrível Waterworld (1995) poderia entrar. Existem mais outros tantos filmes, aliás, que poderiam entrar na lista, mas só isso tá bom, até porque não é tão fácil assim achar fãs de ficção científica.

Herbert Marcuse, filósofo e sociólogo alemão nascido em  1898, um dos pensadores da chamada Escola de Frankfurt, se tornou bastante conhecido no Brasil a partir dos anos 60. Seu último livro, O Fim da Utopia (1980), póstumo, contém as participações de Marcuse em congestionadas e disputadíssimas discussões com os estudantes na Berlim de 1967, selando sua consagração como intelectual engajado que lhe valeria a caracterização de subversivo no Ocidente e ameaças de morte nos EUA.

E o que diabos uma coisa tem a ver com a outra, certo? Vou citar (em cor diferente) um trecho de Fernando Gabeira, retirado do livro Vida Alternativa: uma revolução do dia a dia (1985). Tem o download gratuito no site dele. Gabeira é o cara. Mas é assim:

"Marcuse não queria falar de coisas impossíveis, muito menos prolongar o existente. Veio para pregar uma ruptura completa; gerando o fim da utopia.

Todas as forças materiais e intelectuais que podem contribuir para realizar uma sociedade livre estão presentes no mundo de hoje. Se não atuam é porque a sociedade se mobiliza em peso contra a possibilidade de sua própria libertação. Mas uma situação desse tipo não é suficiente para chamar de utopia um projeto de transformação.

Em seguida, o velho filósofo falou algo que é bastante conhecido dos teóricos do III Mundo. Não há um sábio, disse ele, mesmo um sábio burguês, que seja capaz de negar a evidência de que é possível acabar com a fome e a miséria através das forças atuais de produção. Isto só não acontece por causa da desorganização sócio-política do Planeta."

Daí, eu volto à pergunta: o que todos aqueles filmes têm em comum? Bom, dizem que a arte imita a vida, ou que a vida imita a arte. Em qualquer que seja o caso, eu fico com medo, ao constatar uma coisa. Em todos os filmes, o tal cenário pós-apocalíptico é fruto não de um meteoro, não de alienígenas (esses nós sempre conseguimos expulsar no final, né Will Smith?) nem de catástrofes naturais. Não, senhor. Em todos os casos, de uma forma ou de outra, a grande desgraça que nos aconteceu fomos nós mesmos. Em uma guerra nuclear, acabando com o clime do planeta (ponto pra você, Kevin Costner!) ou mesmo através da nossa tão preciosa genialidade, encontrando a cura pro câncer ou mesmo criando máquinas lindas. Será que é tão ficção assim, ou estamos cada vez mais perto do que os filmes retratam?

Interessante que o texto de Marcuse, que li alguns anos atrás, fala justamente da perda da nossa capacidade não só de criar uma utopia, mas também de efetivamente imaginar uma, dadas as condições em que vivemos, que esmagam nossa capacidade de pensar em algo diferente, mas melhor. Tentei pensar em algum filme que mostre um futuro melhor, mas tudo que me vem à cabeça é algo relativamente igual a hoje (até o caso de Blade Runner, de 1982) ou pior, mas nunca algo melhor. O Demolidor (1993), filmão de ação de Stallone, mostra um futuro teoricamente bom, pacificado (quem leu Admirável Mundo Novo vai ter uma boa noção do que poderia ser o mundo como Huxley imaginou, e não vai se surpreender quando ver que Sandra Bullock se chama Lenina Huxley no filme), mas onde falta liberdade e, depois, vai dar merda, porque o mocinho ganhou.

Nós sabemos que dá mudar, temos condições, e não o fazemos. Quem pode, não o faz. O mundo parece cada vez mais desorganizado, e indo mais e mais rápido pro buraco, e os filmes mostrando isso (e o BBB também). A vida imita a arte? A arte imita a vida? Seja qual for o caso, estamos danados.